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BEIJOS NOS OLHOS DEPOIS QUE CHORAM
BEIJOS NOS OLHOS DEPOIS QUE CHORAM
Marília L. Paixão

Este texto se trata de um programa verde e amarelo cheio de sorrisos. Até o “Ui!” de Rosa Pena eu já tinha lido um pouco indo até a página 45 com muito gosto. Depois me trouxeram Nietzsche e ainda não li quando ele chorou. Chegaram minhas visitas. Todas bonitas. E até meu irmão chegou primeiro. Encontros de chegadas e partidas. Um pulo em Poços de Caldas antes das despedidas. Feliz de quem não chorou. Felizes os que mais riram. Também quem chora não perde o brilho e nem a esperança.

Não morremos de amor. Ninguém mais morre de amor por ninguém e quem sabe é por isso que nós mulheres choramos. Choramos a contra gosto. Choramos por certos desgostos. Derramamos nosso ouro, mas depois o recolhemos em formas de outras medalhas. Eu sei que não gosto de ver mulher nenhuma chorar. Parece que o mundo inteiro fica perdendo ar. Não! Não é só o meu que diminui.

Que lindas fotos tiramos. Fotos viram fatos e sonhos. Sonhamos sorrindo que felizes somos. Realizamos desejos utópicos. Posamos para nós mesmos. Só para nos vermos depois. O depois chega e ficamos nos contemplando: Olha eu lá! Olha como eu me amo! O eu bonito, o eu te amando, o eu te vendo ao meu lado todo risonho. Todas as bolinhas amarelas sou eu sorrindo para você, sorrindo para o próprio eu que sorri para você, que sorri para o seu amor, que sorri para o amor de dentro, que sorri para o amor de fora, enquanto todo mundo se adora: que feliz reunião de eu com o eu meu, com o eu seu, com o delas e deles.

Vem o velhinho nos avisar que há uma forma melhor de tirar fotos do relógio floral da praça. Basta dar a volta e encontrarão uma escada! Subam na escada e vocês aparecerão lá em cima do relógio. Que simplório! Que conselho idoso mais caridoso. A vida continua com mais cores para eu te ver. Como está lindo o meu irmão! Como estão lindas as minhas amigas todas enriquecidas com as cores mágicas do viver. Aceita uma torre de cerveja? Só não bebe quem veleja o barco da luz de fato que nos leva à lua.


Eu sei que eu olho a face do teu corpo vestido de azul. Belo azul, belo céu, belo mar, bela torre. Eu não sabia que no fim ia querer me matar como se fosse um terrorista dominando um avião brasileiro. Olha para mim, amor. Eu não nasci estrangeira em seu coração de tigre. Passou a noite e veio a madrugada virgem e fria. Depois morna, embora a torre houvesse caído. Não. Eu não quero chope menta. Tudo virou pimenta em lágrimas que passam, mas não tinham passado ainda. Inesquecíveis também são os piores momentos da vida.

O dia voltou com mais calor assim mesmo. Não eram as torres gêmeas as da noite passada e a verdadeira torre do dia se erguia fortemente com novas canduras até que um novo mundo desabou e eu repito: eu não gosto de ver mulher nenhuma chorando. Mulher de ninguém! Eu aposto que você não gosta de ver a sua mulher chorando. Eu aposto que você não gosta de ver a sua própria cara chorando. Eu aposto que as mulheres que choram ficam desejando ganhar beijos nos olhos.

Me passou um pensamento bobo pela cabeça: será que as mulheres brancas choram mais? Reparem ao redor e depois me digam se elas choram mais. As mulheres morenas são mais fortes? São mais resistentes ou mais valentes? Aposto que todas querem beijos nos olhos depois que choram. Enquanto isso, minhas férias estão acabando e eu continuo te amando. Até as fotos em preto e branco só fazem sentido com amor.


Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 28/07/2008
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