PEDINDO SOCORRO NAS TERRAS BAIXAS
PEDINDO SOCORRO NAS TERRAS BAIXAS
Marília L. Paixão
Chega uma hora que tudo pesa. Até o relógio no pulso da gente. Tirei o meu. Acabei de passar pelo árduo trabalho de abrir um vinho. Um pouco antes ouvi a frase:
- Deixa para abrir este vinho na casa nova!
- Pode deixar que eu deixo para terminá-lo na casa nova. Estou precisando de um vinho para ver se durmo mais cedo hoje. Talvez nem termine a segunda taça. Será que estou falando sozinha?
Na verdade estou precisando de um monte de coisas. Um apagador de saudade seria uma boa relíquia, super útil e bem-vinda.
Hoje tive até um dia HIPER atarefado, mas que começou de uma maneira especial. Foi uma pena a interrupção de certo diálogo. É... Estou mesmo precisando de ruas verdes.
Talvez eu deva falar com Ana. Já que a outra moça foi embora e não mais voltou… Já que o meu rei dormiu e nunca mais acordou para o meu amor. Não sei ser rainha. Não sei ser mocinha. Será que em outras terras eu já fui bandida? Que bicho eu seria hoje se um bicho eu pudesse ser? Tenho uma amiga que escreve coisas lindas sobre ameba. Eu não sei ser ela. Acho que eu não sei ser nada de bom além dessas mesmices com as mesmas letras.
Quem sabe se eu mergulhar neste vinho eu não me transforme no meu sapo preferido.
Dessa forma serei a mulher mais pura. Não existe nada mais puro que Dagger.
- DAAAAAAAAAAAAGERRRR LORRRRRRRRR!!!!!!
- Onde está você?
-Pegue direito a taça.
- o que?
- Pegue direito a taça.
- DAGGER!!!- Você me ouviu?!
- Eu e até a minha estrela desaparecida no bosque deve ter te escutado.
- Você é lindo, Dagger! Meus olhos brilharam com um brilho vindo não sei de onde.
Olhei para Dagger morrendo de vontade de estrangulá-lo com abraços e beijos, mas nunca o beijei. Olhei para Dagger como quem vê um filho que faz tempo não vê e não sabe o que dizer além de repetir que o ama muito. Foi assim que percebi a parte da minha mãe que mora dentro de mim. A parte que não beija que não abraça, mas que sofre muito de tanto amar assim mesmo. A parte de mim que obediente como um cão que tem dono não se permite ter um cãozinho. A parte de mim que acha lindo um gatinho na fotografia, mas que se um passa por minhas pernas pulo como uma bruxa que desejaria seu couro. Oh deus perdoai meus pecados de rejeitar esses animais em meu mundo.
Será por isso que Deus me enviou minha amiga Ana, a veterinária que escreve coisas lindas sobre os animais todos? E antes mesmo de ter encontrado Ana eu criei Dagger Lor para me fazer companhia e eu lhe ensinar de amor. Este amor mudo e inacabado entre nós. Este amor de cria e criador. E agora eu aqui vendo minha mãe em mim. Oh, pobre Dagger! Será que você merece uma criadora melhor que eu?! Eu não quero ser para você como minha mãe foi para mim, mas tenha um pouquinho de paciência e me ensina com sua ternura a ser melhor de algum outro jeito.
Oh, Dagger, você é tão puro e eu tão grata de ter lhe inventado. Eu precisava ter você para mim. Será que um dia terei coragem de lhe dizer do tanto que te amo? Ou será que continuarei essa falsa cópia quase leal dessa minha mãe que mora em mim? Meu Deus! Será que é isso?! Será que eu sou metade ela? E a outra metade que tanto ama é a metade que foge de ser igual a ela na muda frieza enquanto se derrama por qualquer besteira? Preciso me socorrer de ti ou preciso lhe socorrer, mãe?
Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 04/08/2008
Alterado em 04/08/2008
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