OS OLHOS ENCHEM DE AREIA

Marília L. Paixão

Estou ótima de noite, de dia e de sereno. Estou ótima enquanto com raiva não estou te vendo. Agora preciso aprender a driblar a raiva que rápido passa. Difícil é driblar a paciência com os problemas sociais que giram pelo planeta.

  Outro dia A folha nos trazia notícias da Obamania. Vinha também falando da fé diversificada nos Estados Unidos da América, mas para os mais inteligentes, tudo é muito diferente, principalmente o hoje do amanhã não importa em que templo.

Por aqui o que me importa no momento é o show da Madonna.

Sim! Estou precisando ver estrelas.

Pode falar ou pensar pouco dela quem quiser, mas quem negará que é uma estrela?!

Se precisar enfrento um dia de fila para vê-la. Se não der não vou morrer! Não que Madonna não merecesse que um fã morresse por ela, mas não precisa. Ela já é dona de muitas primaveras. Qualquer flor que ela venha  perder não será notada. Milhões de outras a prestigiarão. Com toda razão!

Se não der para ver de perto esta americana estrela sentarei ao chão com Dagger.
Juntos desenharemos um limão de lágrimas.

- Se fosse no caso da Alanis desenharíamos um cheio de diamantes. Mas este limão é o da Madonna, Dagger, um limão de lágrimas já é uma homenagem bonita.

-Vê como é mais fácil desenhar limão que maçã. Dagger?!
- É...
- Pode dizer tudo que está pensando, pode dizer! Lá estaria eu me sentindo um fracasso por perder aquele show.

- Hoje lhe darei todas as palavras! Fale a vontade Dagger!

Como ele permanecia em silêncio, repeti.
Podia ser que ele não tivesse entendido direito.
– É mais fácil desenhar um limão que uma maçã, você não acha?!
- Mas as maçãs são mais bonitas!
- Tudo depende do olhar que as fita.   Retruquei.
Não ia querer que ele se contaminasse com a minha tristeza.

- Não é por causa do limão que os seus olhos estão cheios de areia?!
Por dentro me sentiria feliz por ele ser minha cria. Mas para ele não ficar confuso entre limão e maçã em noites não enluaradas deixaria escapar a verdadeira lástima:
- Muitas vezes é por falta de estrelas que os olhos enchem de areia.