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AS LUZES DOS OLHOS ERAM DELA
As Luzes dos olhos eram DELA
Marília L.Paixão

Se você virar para alguém e disser: você é a luz dos olhos meus. Esta pessoa se não te amar provavelmente pensará: que brega! Mas se por felicidade sua esta pessoa também morrer de amor por você ela lhe dirá: você também é o meu céu, terra e mar. As palavras de amor só conquistam o seu efeito verdadeiro se são ditas para a pessoa certa e muitas vezes também requerem o momento certo. De nada adiantará você gritar que ama o João em um momento em que ele lhe deseja ver pelas costas. Da mesma forma não adianta trazer flores para a Maria se ela já sabe que você esteve com outra.

Ao chegar à fila onde centenas de pessoas já estavam deitadas, sentadas ou de pé a espera do outro dia para comprarem ingressos para o show da Madonna, a luz dos olhos de todos possuíam apenas um nome, que era o nome da estrela. Em todos aqueles olhos haviam Madonna escrito. Este brilho no olhar fazia com que cada novo personagem da fila que chegasse fosse bem vindo contanto que educadamente caminhasse até ao final da fila e se acomodasse no seu pedaço de chão da calçada.

Assim que cheguei ao meu pedaço de chão olhei para trás e vi uns que vinham de direção oposta. Pensei! Ufa! Cheguei primeiro. Na minha frente três jovens, bem jovens, rapazes de aparência gay bem bonitinha me olharam como se eu fosse uma senhora careta e me cumprimentaram como se a partir daquele momento eu fosse inibir o sorriso ou o papo deles. Vocês estão pensando errado de mim, eu pensei, mas nada falei já que nem eles.

Em seguida aproximou-se uma moça toda falante. Eu pensei: para eu falar este tanto com uma estranha quantas cervejas eu precisaria ter tomado?! Aquela seria minha colega de papo da fila. Ela seria uma nova rosa ou tinha tomado suas cervejas antes de vir?
A coisa estava melhorando! Logo veio um rapaz alto magro, bonito e só. A fila estava se diversificando. Ele nos cumprimentou gentilmente e suas primeiras falas eram calmas, interessantes e ponderadas.

Em seguida chegou um casal bem diferente. Um cara grandão, bem alto, gordinho, cabelo partido de lado e ao sorrir e dizer olá já se previa sua preferência sexual bem distinta. Não tinha nada a ver com a mocinha toda simpática, cor bem escura, carinha de bem menina que o acompanhava com o mesmo brilho no olhar dos olhos nossos.
Não demorou e o grupo se apresentou todo falando de suas expectativas. O primeiro assunto geral foi MADONNA!!! Quem queria o ingresso vip e quem queria o que tivesse.

Depois um ou outro começava a falar de si mesmo. Não é que a moça do meu lado também era uma teacher? Não é que o cara alto era formado em jornalismo e artes?! Outro era músico compositor, a mocinha mais novinha era estudante de oitava série. Dos três carinhas novinhos um era professor de geografia.

Tinha outro cara que até esqueci de mencioná-lo. Que cabeça! Um jovem tão bonito lá do Pará...  Este tinha um aparelhinho que era celular,tv, computador e sei lá mais o que...este fazia questão de tampar a cabeça toda vez que vinha por perto uma rede Globo, Band ou Record! Ele dizia: Se meu pai me vir aqui nesta fila com essa bicha ele me deserda! Mas assim que as câmeras saiam ele se encolhia ao lado do outro rapaz, mas era tudo de brincadeira. Ali ninguém tinha lance com ninguém, era só divertimento e conversa fiada enquanto o tempo não passava. A luz dos olhos de todos era só a mesma estrela.

Eu como a mais velha de todos fui a primeira a esticar meu tapetinho e colocar a almofada no chão e a me deitar. Possuir aquela almofada era um verdadeiro luxo! Depois da meia noite o frio ia chegando e cada um ia ficando com dó de cada um com a falta de conforto daquela calçada fria. Um dos rapazes tirou uma mantinha da mochila e jogou sobre o meu corpo e foi uma delícia. Dividi o brilho dos meus olhos que eram da Madonna com ele e o fiz com muita gratidão.  Era um cara muito fino! Falou que já tinha visto um show da Madonna em Nova York e que estava ali para comprar ingressos para  alguns dos seus amigos.

Vez ou outra durante a madrugada passava uma moçada num carro e gritava: A Madonna não vem não!!! Cambada de otários! Não tem Madonna não! A Madonna não vem não!!! O povo da fila vaiava. Uns gritavam dizendo que eles estavam com inveja! Nada e nem ninguém nos tiraria da fila. A gente possuía o brilho da vida.


Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 05/09/2008
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