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RAIVA DE MIM?
RAIVA DE MIM
Marília L. Paixão

Tem coisas que gosto de ler e outras prefiro escrever. Mas neste exato instante estou com raiva de mim por não ter lhe fotografado na praia do jeito que eu queria. Será por isso que como castanhas de caju sem me preocupar se engordo? Depois inventarei uma leitura de jornal emagrecedor para varrer raivas até de ex amor.

Estou com raiva de mim por ter viajado tanto e não ter dirigido. Sentir raiva é coisa que não afunda o umbigo, mas se for para me submeter o melhor foi ter me submetido a leitura de dois poemas da Tânia Meneses quando fui a uma lan house nordestina, coisa que não existe em cada esquina. Nem  o acesso à internet e nem a beleza incrivelmente rara e calma dos poemas desta sergipana. Eu passei em Aracaju, Tânia!

Ando com raiva de mim por não ter tido tempo de ler as duas últimas entrevistas da Malu. Não demora e ela me acorrentará com sua doçura, mas ficarei feliz se ela apenas reservar cinco perguntas curtas e gostar de respostas monossilábicas. Não me considere ingrata, Malu! Até lá minha raiva passa!

Estou com raiva de mim neste poço distante das minhas mais livres palavras, pois se elas não são livres, sou nada. Devia ter escrito no sabonete que te amava já que não escrevi na praia. Devia ter enterrado à força no seu coração todos os meus milhões de caladas palavras. Vou repetir que estou com raiva de mim: sou nada.

Não catei conchas do mar, não catei pedrinhas, mas eu vi água-viva! Não li jornal, não fiz crônica e nem desacatei o amor cuja dor se mostrou.   O amor é isso? Cheio de sacrifícios?   Devo trocar a raiva de mim pela raiva do amor que sobrou, senhor das areias?    
                                                              
Estou me sentindo conduzida e não sou nenhuma Mrs. Daisy. Estou me sentindo aturdida e não foi por nenhum vinho do porto. Às vezes me sinto rio num paralelo esgoto e grito um não para todos os rostos só por um gosto. Não! Não quero mais vinho. Procuro um café sem destino, senhor das areias! Gostei mesmo foi das xícaras verdes que não ofuscam o vento nordeste.

Talvez uma delas me faça perder a raiva de mim por ter abandonado as letras. Mas estou com raiva das letras que não me abandonaram. Elas reclamam e proclamam meu crime de não escrevê-las. Ou Deus me salva ou Deus me ilumine. Espero que minhas letras não me subestimem.

Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 21/10/2008
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