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POR QUE NÃO JOGAR UMA PEDRA?
POR QUE NÃO JOGAR UMA PEDRA?!
Marília L. Paixão

Antes que eu desapareça por não sei quantos dias vou deixar no ar uma das minhas preocupações recentes já que o sapato voador fará parte dos momentos retrospectivos de 2008. Deixo claro que está fora de questão o detalhe do receptor da sapatada merecer ou não a fúria do atacante ou de parte do mundo. Afinal, o que me preocupa?!

Preocupa-me os lugares em que tal ato passe a ser imitado e não punido. Preocupa-me este desequilíbrio passar a ser praticado por jovens infratores, por estudantes rebeldes, ou simples stressados do cotidiano. Ou não passou pela cabeça de ninguém que qualquer um pode ser alvo de uma sapatada no meio da rua sem nem ter feito nada?! Imaginem quantos loucos podem preferir voltar para casa descalço e te deixar com uma cara vermelha sem nem você ter visto de onde veio um tênis velho cheirando a chulé?

E se numa fila de banco alguém surta e joga um chinelo no caixa antes de sair da fila?! E se não joga em você que ocupou demais o caixa?! Agora imagina o estado de São Paulo onde a violência nas escolas é cada dia mais crescente? Começarão a jogar nos colegas, nos professores e diretores?! (E se já não o fazem não parecerá um ato mais normal agora?!).

Eu tenho lido sobre pessoas que aplaudiram o ato. Já li até referência ao jornalista como herói. O que mais terá sido dito ou escrito?! Ah! Que coitadinho do jornalista! Foi espancado na prisão! Mas cá para nós, qual seria a ideal punição?! Como se pune um ato deste? /Eu que nunca gostei do Presidente Bush e também existem outros que eu não gosto e que mesmo que se fossem sapateados ou pisoteados ou havaianizados eu também acharia que uma punição teria que ser justa nesta era em que os valores estão já caindo aos pedaços.

Se um louco jogasse um sapato no papa alguém chamaria de herói o atacante? E ai irão dizer que o papa é uma santidade que merece respeito. Os demais cidadãos do mundo não?!  Faríamos uma seleção em quem poderia receber um calçado na cara ou não?! Um idoso qualquer que passeasse pela praia de Copacabana por andar muito lentinho merece uma sapatada? Um deficiente físico, um cão sem dono...

Imaginem um novo número de ocorrências policias: - Não! O sujeito não roubou nada, mas tentou me dar uma sapatada, segurei ele pelo braço, vai dar pelo menos uma boa surra nele, seu guarda?!

Vocês acham que alguém vai fazer isso ou alguém não vai ter vontade ele mesmo de espancar o desgraçado? Violência gera violência. Melhor não fazer do jornalista o seu herói ou a próxima vítima pode ser você. Imagine que se um sapato quebra uns óculos e cega uma pessoa? Mas se essa moda pega sem punição o sapato será substituído por qualquer coisa. Pois se joga um sapato e nada acontece por que não jogar uma pedra?!

Troquem por um instante o sapato por uma bomba. A fúria do jornalista seria a mesma fúria de um terrorista. Estou querendo dizer que devemos escolher melhor nossos heróis antes que eles morram todos da overdose de serem o que são. Se estes tempos não estão para flores, também não é preciso usar do desrespeito para aliviar nossas dores.
Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 17/12/2008
Alterado em 17/12/2008
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