O MATO DO CORAÇÃO GRANDE
O MATO DO CORAÇÃO GRANDE
Marília L. Paixão
Depois de tantos dias ausentes o mato está muito crescido e os jornais não foram lidos. Também o que é uma casa sem o dono? Nem vou mencionar as xícaras sem visitas e falar de saudade da casa seria o mesmo que falar de um rosto semi descoberto na varanda de um espelho. O mais importante é que por dentro estou sorrindo.
Eu voltei e não voltei para o terreiro, não voltei para o mato e nem voltei para encher de alegria as minhas xícaras. A verdade é que eu voltei para o doce esconderijo de mim. Voltei feliz sim! Se as palavras me permitissem seria capaz de eu mesma cortar o mato, mas as palavras inventam mil outras tarefas para este ser feliz na terra em que se esconde.
Mas gostei dos desafios do mundo lá fora. Se eu pudesse cantaria o meu pouquinho de glória, mas deixa eu guardar dentro de mim mesma. Há coisas que engrandecem mais se permanecerem apenas na memória. Talvez eu tenha crescido mais ou menos como o mato e devo cuidar é para que ninguém me corte. A vida possui momentos de sorte e outros de sapiência.
As xícaras não pularão do armário sem minhas mãos. Dagger não aparecerá antes que eu toque o sino da volta e se nenhum tubarão me mordeu em Olinda, onde nem tinha mar nenhum peixe cutucou meu pezinho de Cinderela de meia vida vivida. Foi assim que eu voltei do interior trazendo uma sacola de pé de moleque dado por um coração dos grandes.
É assim que percebo que meu coração também está. Grande. Mas por que é que só percebo as coisas assim depois que chego em casa?! Será que é neste retiro que vejo tudo com mais clareza? Será que é aqui que faço o verdadeiro balanço das folhas do coqueiro ou das ruas por onde ando?
Meu coração cresceu feito o mato ou é pura alegria de estar em casa? Há urgência em capinar o mato assim como havia urgência de crescer meu coração? O que é nesta vida que precisa de tanta razão? Sequer uma água fria ou alguma água salgada diminuirá minha alegria. Uma noite de texto triste eu deixei guardada em algum canto dormente que não faço questão nenhuma de despertar. Que aqui é o meu lugar de me esconder e não de me mostrar. Só me vê por dentro quem enxerga longe.
Quem sabe eu passei por aqui só para desejar um Happy New Year. Quem sabe Belchior quando cantava: "Meu bem, a vida está naquela estrada ali em frente. Tome um refrigerante, coma um cachorro quente, sim! Já é outra viagem e o meu coração selvagem tem essa pressa de viver..." Quem sabe ele estava certo. Quem sabe a vida será sempre uma estrada ali em frente com ou sem pressa de viver. Deve ser por isso que estou rindo para o mato sentindo o coração grande.
Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 27/12/2008
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.