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MESMO NÃO SENDO NENHUM DE NÓS
MESMO NÃO SENDO NENHUM DE NÓS
Marília L. Paixão

Tem dia que não é dia de falarmos da gente, então falamos dos outros mesmo se estes outros somos nós.

Era assim que Bela, uma moça mais triste que alegre entendia a vida diferente do nome que lhe tinham dado. Mas mudar não podia ou podia? Também ia mudar o nome para qual? Para feia?Não! Bom mesmo seria mudar de bela para linda. Um sinônimo do engano.

Bela ou não um dia Bela se casou. Não foi com nenhum príncipe. Precisava dizer isso?! Qualquer um teria adivinhado pela sua qualquer coisa sem a boa palavra para juntar com a estima. E o nome dele? Era sem amor o nome dele. Nunca tinha gostado do nome, mas ele nunca gozou do dela: Bela, que nem era bela.

Mas prendada ela era. Bordava e passava muito bem. Cozinhava qualquer coisa que para casa ele trouxesse. Desde um tatu a um sabiá. Fazia farofa como ninguém e entendia até de jardinagem.  Plantava-lhe flores no lugar de couve.

E ele?! Ele era o silêncio. Ou então era o resto de cansaço do dia, coisas que mais ouvia dele nas noites de apenas jantar. Nas noites de sonhar não sonhava por ser a noite dos gozos dele. Nas noites dos gozos dela que não coincidia com as noites de gozo dele ele já dormia.

Um dia Bela desabafou com sua amiga chamada mais ou menos de confiança. Os olhos da amiga mais ou menos confiável como o próprio nome dizia se arregalou em intensa curiosidade quando Bela lhe murmurou umas palavras de infelicidade. E no final a amiga aconselhou: Já pensou em deixá-lo? Já pensou em fugir para uma vida diferente?

Foi ai que Bela sentiu que sua vida não era tão tristemente feia como o diabo queria que esta lhe parecesse. Olhou para o chão da sala limpinho e esticou os olhos para a varanda onde fazia tempo havia uma rede cheia de solidão estendida. Talvez melhor fosse deitar-se na rede e esperar pelo vento que diminuísse o deserto.

Com este pensamento ela falou para a quase não mais amiga: Tem dias que não são dias de falarmos da gente e então falamos dos outros, mesmo estes outros não sendo nenhum de nós.

Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 06/01/2009
Alterado em 06/01/2009
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