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DERAM CONTA DO SERVIÇO DIREITINHO
DERAM CONTA DO SERVIÇO DIREITINHO
Marília L. Paixão

De onde estou vejo meia cidade. Nesta meia cidade que vejo resolvi que a metade dela podia ser eu e a outra metade o que ainda quero. Nada de egoísmo apenas um pouco de pensamento positivo. E o meu pensamento mais nobre e honesto é o em que eu sou o meu próprio centro. Por isso resolvi que neste ano entre outras coisas belas eu o começaria adquirindo coisas a começar pelas menores, já que pelas maiores a grande conquista foi o bem estar familiar e o de ainda sorrir para a vida todos os dias.

Se fizesse uma lista das pequenas coisas que não tinha  começaria por uma caixa de ferramentas. Estava decidido. Teria uma caixa de ferramentas e para provar que a decisão foi séria já comprei várias peças. Mas ainda falta a caixa. Mas como vou saber o tamanho da caixa se ainda não tenho todas as ferramentas?  Outra coisa que decidi foi que teria uma churrasqueira. Sempre morei em apartamento e agora morava em casa e podia. Foi ótimo! Tive minha primeira manhã de churrasco feito todinho por mim. Ainda há carvão em meu braço, prova de mais um sonho realizado.

Continuando minha realização de desejos sem datas de vencimento lembrei que nunca tinha plantado nada e ontem para me engraçar comprei duas mudas de rosas. Comprei umas ferramentas de jardinagem e adorei a turnê atrás dessas coisas. Está lá a rosa branca bem plantadinha, mas a rosa vermelha, a que tinha cheiro e tudo quebrou antes de ser plantada. Plantei o talo assim mesmo. Amanhã plantarei margaridas. Pode até dar errado, mas estou tentando certo. Comprei até remédio para matar o mato mas o moço falou que é para esperar ele começar a crescer de novo.

Tinha arrumado alguém para vir cortar o mato dois dias antes. Quando veio o alguém me apareceu um velhinho de uns não sei quantos anos com sua senhora do ladinho. Como é que eu ia falar para ele que achava que o serviço era pesado para ele? E foi o irmão que o trouxe para o serviço. Olhei para ele e vi que tinha uma carinha tão alegrinha, com um sorriso tão melhor que o meu que eu pensei que o deixaria fazer tudo que ele quisesse.

Ficou combinada a capinação do mato para o dia depois do próximo, pois ele estaria terminando outro serviço. A última coisa que ele disse era que se chovesse ele não viria. Não choveu e ele veio com a velhinha. Abri o portão para ele, a velhinha dele e uma enxada velhinha também. Ele desceu pra o canteiro cheio de mato e ela ficou em cima olhando-o da garagem.  Perguntei se ela não queria uma cadeira para sentar lá embaixo e ficar mais perto dele. Ela queria, mas não conseguiria descer a escada. Eu desci com ela pé ante pé pelo braço observando-lhe os membros inferiores tão judiados.

Em seguida desci com uma cadeira inutilmente, pois ela se meteu no meio do mato e começou a arrancar muda de não sei o quê pra a mãe dela. Morri de medo de ela ser mordida por algum inseto, mas Deus ia cuidar dela enquanto fui cuidar do meu primeiro café da manhã. Que dona velhinha levada! Melhor era ela ficar sentadinha na cadeira, pensei.  Assim que o café ficou pronto eu cheguei da garagem e ofereci. O velhinho falou que eles aceitavam sim. Eu corri para colocar leite para ferver e eles já estavam na porta da cozinha. Fiquei pensando como ela tinha subido tão rápido as escadas enquanto colocava queijo, geléia e pão na mesa.

Detalhes: Eu mesma tive que adoçar o café com leite deles. Eu mesma tive que passar geléia no pão e cortar o queijo. Que eles só balançavam a cabeça que sim ou que sim. Pois ou eu fazia ou eles sequer se moviam de tanta inibição e humildade. O velhinho sorria. A mulher não sabia nem balançar a cabeça que sim sem olhar para o velhinho, então eu do jeito que fazia as coisas para ele fazia para ela. Comeram tudinho, tudinho. Pensei que se eu não tivesse oferecido o café com certeza eles desmaiariam de fome lá no meu mato. Mas depois do café deram conta do serviço direitinho. Eu fiquei feliz com meu terreiro, com eles e comigo.

Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 10/01/2009
Alterado em 10/01/2009
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