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EU QUE NÃO TE AMO E NÃO SEI COMO TEM ESTADO
EU QUE NÃO TE AMO E NÃO SEI COMO TEM ESTADO
Marília L. Paixão

Não, eu não te amo! Não te amo todos os dias. Não te amo todas as noites e tem mês que eu passo até uma semana sem te amar. Basta eu não receber aquela carta de amor que o carteiro trazia com passos tediosos de um estômago que comeu as pressas uma comida não tão gostosa enquanto eu a recebia com o coração aflito.

Vão pensar que você é do tempo das trevas, do tempo sem luz elétrica, sem água encanada e o pior ainda, sem minas de ouro e diamantes. Na verdade ninguém sabe que você é o meu rei.
É de propósito que eu não conto para ninguém que você existe.  Não te imagino um rei sem ter o que governar e você bem sabe que não bordo bem e não amarraria sapatos de ninguém se não fosse por amor. Lembra a primeira vez que lhe disse que por você eu carregaria água na peneira?!

Eu nem sei o que você faria se fosse eu quem estivesse no Iraque. Na Índia eu nunca estaria. Ou quem sabe se eu pudesse iria por lazer só para comparar a bagunça cultural como os ricos fazem. Por aqui as coisas vão de mal a pior. Não comigo, mas com o povo.
Na medida em que a gente vai entendendo das coisas a gente ri da desgraça alheia. Aos poucos os ignorantes não nos fazem chorar mais. A gente ri por saber que eles carregam o troco da burrice numa mula de dois pés quebrados. Até que a gente sente depois que passa a vontade de rir primeiro.  Sabia que é fácil rir da ignorância do outro? Parece uma forma de consolo para abreviar nossa impotência.

Sei que vai dizer que estou ficando insensível, mas no fundo sabe que isto é só mais um texto. Ninguém sabe um sexto de mim que seja totalmente verdadeiro. Para saber tem que me colocar numa peneira e me levar para dentro de um rio. Tudo que de mim que não se misturar a água e for embora, sou eu.

Mas e você? Vai continuar idealista? Sua calça de couro ainda está guardada para as nossas noites de frio. Imagino o inferno ai e deve ser por isso que não chega mais nenhuma carta.
Contanto que não seja uma carta com comunicado mortífero continuo a esperar. Eu guardo bem sua risada e é ela que por vezes me faz chorar.

Eu mil vezes preferiria você aqui comigo vivendo modestamente a você por lá correndo atrás de medalhas da imaginação. Você que não se importa de deixar para voltar depois que estiver cego, ou sem um braço ou perna. Tenho até orgulho do tanto de orgulho que você tem do seu país. Como foi nele que eu encontrei você tudo se justifica. Tanto a grandeza do seu país quanto a sua.

Você deve estar pensando que já perdi meu coração no deserto dos meus sonhos em que você volta, mas nunca volta... Ele nem se importa de bater sozinho toda vez que por você ele chora. Na verdade eu queria te dizer que eu não te amo só quando estou dormindo ou sonhando acordada. Eu te amo até quando penso que não estou pensando mais em ti. E quando eu chego a acreditar que não mais penso tem um mundo a minha volta me trazendo sempre você e o melhor amor eu sinto tão de perto... Quando é que você vai me dizer como tem estado? É só por não mais te amar que eu não posso saber? Enquanto você não responde o sofrer faz qualquer texto parecer mais bonito assim como o amor parecer eterno.

Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 10/03/2009
Alterado em 10/03/2009
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