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MULHERES PERDIDAS - PERDIDA EM NOVA YORK
MULHERES PERDIDAS - Perdida em Nova York
Marília L. Paixão

Estava num trem cheio de pessoas bem vestidas. De tudo que ela entendia de trem aquilo já não parecia normal. Suas lembranças de trem eram de pessoas misturadas e muitas com aparência estranha em pé quase uma tocando na outra com olhares apreensivos. E as pessoas também tinham seus cheiros de suor ou de banho e apenas uma minoria tinha aparência bonita. Num trem cheio de pessoas bem arrumadas como aquelas ela nunca tinha estado. Aquele devia ser um trem especial. Talvez um trem que levassem pessoas para um aeroporto, ou um evento importante, pensou.

Delicadamente para não parecer que estava acordando de um sonho esfregou uma mão no olho esquerdo e depois no direito. As pessoas daquele trem pareciam com as pessoas do filme Fora de Rumo, com a Jennifer Aniston e Clive Owen... Sim! Pareciam com pessoas de filme americano. Moveu a cabeça discretamente para todos os lados e lá estavam vários homens de ternos. E as mulheres estavam bem maquiadas e se vestiam como se fossem para uma festa.
Meu Deus! Como ela estava? Será que alguém teria um espelho? Antes que um outro pensamento preocupasse sua vaidade feminina ouviu a voz transmitida por um alto falante: Last stop: Grand Central. Parecia que todos tinham entendido a voz, menos ela. Também como ia entender a voz se nem entendia como tinha ido parar ali?

Um senhor uniformizado lhe disse: - Last stop, miss!  Como não tinha mais ninguém dentro do trem entendeu que ela teria que sair também. Levantou-se e o senhor lhe chamou novamente lhe dando uma sacola plástica verde, tipo sacola de shopping. Devia ser dela! Não se lembrava, mas aceitou assim mesmo. Certamente a sacola lhe pertencia. Pensou sentindo-se absolutamente nua de lembranças e posses e em seguida saiu do trem e seguiu a maioria das pessoas.

Foi parar numa rua movimentada. Não pode deixar de reparar num prédio muito alto. Alto mesmo! Parecia com aqueles em que aparecia o super homem, o homem aranha ou mesmo o King Kong. Seria o Empire State?! Mais um pouco de caminhada e viu uma Igreja que parecia coisa de contos de fábulas. Para reforçar o pensamento viu chegar uma carruagem trazendo uma noiva. Será que estava vendo aquilo de verdade ou era fruto da imaginação? A igreja possuía lindos vitrais e tentou guardar o nome que via: St Patrick’s Cathedral. Pois se aquele nome existisse a tal noiva e a carruagem também tinha que existir.

Passou a ver pessoas entrando em taxis amarelos e desejou entrar em um por já estarem cansadas suas pernas.  Mas não teria como pagar o taxi e nem saberia dizer para onde ia.  Algo lhe dizia que ela deveria voltar para o começo e aquilo tudo tinha começado no trem!
- Moço, como faço para voltar para a estação de trem? Perguntou para um transeunte com cara de estrangeiro. Mas o moço não lhe deu ouvidos e foi tentando com outros. Um deles falou um monte de coisas rapidamente com uma voz áspera e se mandou. Talvez não a estivessem escutando direito. Mudaria as palavras da fala. Tentaria falar um pouco de inglês. O mundo inteiro fala inglês:
- Moço me help achar a estação, por favor!                                                                                                  - Sorry, I don’t understand your language. Assim como eles não a entendiam ela também nada entendia do que eles lhe diziam. Alguns pareciam até educados. Definitivamente assim que se sentisse em casa iria aprender a língua do mundo.
Este negócio de uma língua só a estava deixando muito empatada.

Desanimada pensou se deveria ou não continuar naquela avenida com nome de Quinta. Depois sentou-se perto de uma fonte com lindas estátuas de onde a água não parava de correr. Colocou sua sacola verde no mármore verdinho e ficou fitando a água até que a sacola começou a se mover. Puxou a sacola para perto de si novamente e colocou reparo. Afinal, alucinações também tinham que ter limite. Resolveu ver o que tinha na sacola. Não pode morrer de susto, pois a alegria era maior - Dagger!!! O que você está fazendo aqui?

- Uai?! Você não veio me buscar? Como era bom ouvir o som da própria língua.  De jeito nenhum poderia decepcionar sua cria. E se naquela história alguém seria heroína, pelo menos para ele, que fosse ela. Respondeu prontamente: – Claro que eu vim!                                                         - Agora que nos encontramos não estamos mais perdidos?!                                                                                  Ele lhe perguntou com a carinha verde mais feliz do mundo.                                                                             - Não querido, não estamos.
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Este texto faz parte do II Desafio Recantista de 2009.
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Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 27/03/2009
Alterado em 22/01/2011
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