Textos


CURSO PARA ESCRITORES RECANTISTAS?
Marília L. Paixão



Há cursos preparatórios para tantas coisas neste mundo que deve até existir cursos para formar capetinhas. Mas como estamos no mês de maio recordei que há cursos para os noivos se prepararem para o casamento. Já inventaram o que os prepara para a separação? Claro que devem ter inventado, mas quem é que procura depois dos anos de casado e já desiludido com as nuances do amor? Os procurados são os advogados que explicam as questões dos bens. Hora em que fica o "meu bem" pra  lá e meus bens para ca!

 
Agora vamos falar dos cursos que tentam até moldar a personalidade do sujeito para ele ter o equilíbrio necessário que são chaves mestras em certas profissões. Por exemplo, arte de persuadir, dom de insistir com delicadeza, dom de esconder a frieza, ser ponderado, etc. E fiquei pensando nos requisitos que dizem ser os que os grandes escritores devem ter ou tinham.
 
Já vi várias pessoas dizendo que a humildade é a maior delas. E que os que não são nunca serão verdadeiros escritores. Verdade ou mito? Mas estas considerações são feitas baseadas nos perfis dos escritores de outros séculos? De qualquer forma a humildade é uma qualidade indiscutível não importa a época. Mas qual é o perfil dos novos escritores, nesta época de tecnologia e interação virtual mundial?
 
Bom, amadoramente ofereço meu perfil para um instante de reflexão.
Imagina o meu exemplo como um bem diversificado. Há em mim uma mistura de tudo quanto é sentimento humano não domesticável e impulsivo. Será que eu teria que fazer um curso para aumentar a lista de adjetivos que eu deveria ter para que minha personalidade viesse a agradar a todos incondicionalmente?
 
Antes de me cadastrar eu perguntaria:
- Mas funciona mesmo com gregos, troianos, circenses, psicopatas, rebeldes do nada e etc?  Pois já aprendi nesta vida que ninguém é perfeito para ninguém. Um curso deste requer paciência além de sapiência e sua eficácia ficaria por conta do Deus dará de qualquer jeito, e tudo que fica por conta de Deus eu humildemente já recebo mesmo algumas pessoas achando que humilde eu não sou só por que eu afirmo que gosto do que eu escrevo. Mas para que eu vou mentir dizendo que gosto pouco sendo que eu gosto muito?
 
Encerrando sobre o perfil dos escritores da atualidade vale recordar que há os que posam de vítimas em seus textos fazendo eternas referencias aos seus desafetos, seja para manter audiência ou manter um retrato rancoroso deste em sua memória. Outros que não cultivam o rancor já preferem se esquecer dos não queridos não se preocupando se estão vivos ou mortos, não se importando com nenhuma recompensa. Eu não sou de ficar lamuriando perdas. Prefiro fazer parte dos que dão nomes aos bois para expressar admiração ou saudade, caso contrário, nada melhor que a indiferença.

www.recantodasletras.com.br/cronicas/1606180


Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 22/05/2009
Alterado em 22/05/2009
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Comentários
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Gizele Aguiar
Admira sua veracidade na escrita.Vc. é polemicamente interessante.Bj
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Santiago Cabral
Brilhante crônica, Marília! Mas, te garanto: por mais Cursos que você faça, jamais agradará a gregos e troianos. E a razão está nesta frase, escrita num muro de Universidade: "Não sei por que, Dr. X, mas não gosto de você". Parabéns pelo texto!
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Juli Lima
Bom dia! Fiquei curiosa, e como gosto de ficar informada vim te ler. Achei pertinente a sua crítica. Fez-me tb pensar... E voltei no tempo, quando aqui aportei. Vim para responder um "desafio" e fui ficando. Acredite, escrever não me atraia, mas sempre adorei ler. Bj poesia
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Evelyne Furtado
Eu não aguentaria um cursinho de escritores. Aliás, detesto as tais Oficinas Literárias.Cada uma escreve de sua maneira.Gosto muito do seu estilo, mas não saberia fazer igual. Bjs e boa noite.
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Dolce Vita
Olá Marília! Tua crônica me fez pensar em um dos meus últimos textos de humor: "Matrículas Abertas" onde a personagem meio maluquete, meio mística, meio fora de tudo, propõe cursos de sabedoria! Imagine! Não, nem imagine! Não vale a pena! Enfim, não sei se você compartilha da mesma visão, mas acho que nada é mais crítico e severo do que o humor. Portanto, quando li tua crônica, não pude deixar de, mais uma vez, pensar na função crítica que existe também fora dos textos humorísticos, como é o caso da tua crônica, aqui. E nos questionamentos. :) (Obrigada pelo generoso comentário em "A Voz do Silêncio") :)


Imagem de cabeçalho: inoc/flickr