PARA TODOS QUE FORAM MUITO FELIZES
Tomava um café na xícara verde. A noite não vinha e nem podia ir sem ter vindo. Em minhas lembranças ela possuía cabelos amarelos feito o sol. Adorava jogar conversa fora e principalmente dentro dos meus ouvidos. Sempre me fazia sentir muito importante. Eu pensava: o que será que ela tanto vê em mim? Por que parecia que só meus ouvidos a interessava e também minha fala.
Ainda assim, não conseguiu traduzir seu coração de leite o meu coração de ondas. O jeito foi colocar umas ervas no café para na futura manhã não ter problemas matinais com o banheiro. Disse a ela que fingiu não ter ouvido então eu disse: Desenhei um pé de amizade por sua causa em meu jardim. Ela gostou desta parte da conversa e sorriu.
Pensei que a tarde tinha sido quente enquanto mal tive tempo de folhear as folhas finas dos jornais com notícias grossas e infelizes. Por conta do meu aniversário eu atrasei um monte de coisas que classifiquei como pouco importantes diante a data. É. Se há tantas datas importantes a do nosso nascimento deve ser uma delas por mais que não seja feriado. Mas eu já aprendi a fazer o meu feriado e escolhi passar à tarde com as casas coloridas das meninas. Depois fui ver Divã no cinema. É raro um filme brasileiro prestar e este prestou. Adorei passar aquele tempo todo com a Lilian Cabral naquela tela enorme. Se fizerem o Divã II pode até ser com ela sozinha que eu compro mais pipocas e me sentarei feliz por vê-la. Um dia e noite com mulheres foi muito bom sem nada perfeito.
Foi tão bom que até me esqueci que naquele mesmo shopping a menos de um mês ou pouco mais que um mês uma mulher havia pulado do quinto andar com intenção de se matar e conseguiu. Mereceu página no jornal e tudo! Acho que ela fez do shopping o que alguns norte americanos fazem da Golden Gate Bridge na Califórnia. Talvez ela tenha escolhido lá para dar um jeito na triste vida dela e na falta de pontes altas por aqui agora sabemos que é possível pular e morrer naquele shopping medíocre. Eu sei que fiz do cinema do shopping um bom conserto para a minha noite que estava muito mais ou menos até então. Mas tudo ficou bem depois de algumas risadas. Rir é remédio para muitas dores. E você começa a pensar que o final do filme lhe serve, me serve, serve para todos que já foram muito felizes.
Ainda hoje recebi um e-mail com frases do Victor Hugo. Minha reflexão sobre as mensagens do e-mail renderá outra crônica bem diferente do meu estilo. Mas como será diferente não será para hoje. Hoje eu quero continuar comemorando minhas mesmices, meus atalhos tortos, minha correria desenfreada em busca da minha própria importância.
Descobri que sempre que alguém acha que eu me acho, eu me acho! É assim que sigo sorrindo diante este acumular de novos anos sem nenhum medo da grande idade que se aproxima feito um trem veloz agora que sabemos que o ontem passa feito ventania e o amanhã é um aquário cheio de peixes que podemos ver ou não. De qualquer forma, eu me sinto muito feliz quando lhe vejo e nem me importo se o mar está para peixes ou para um tubarão. Só espero que a terra não nos seja em vão.
Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 30/05/2009
Alterado em 30/05/2009
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