HOMEM TEM QUE SENTIR FRIOA carne da churrascaria recomendada fazia um casal perfeito com as deliciosas batatinhas. Aquele casamento da carne com a batatinha era mesmo mais perfeito que o da goiabada cascão com queijo. A carne era mesmo divina. Só não chamava aquele instante de paraíso por causa da música que era forçada a ouvir. Mas como nada é perfeito, a carne valia o sacrifício.
E ai a música horrível acabava e começava outra. Se reparar na letra é tudo de conotação sexual. São todas incitando ao sexo casual além de colocar a mulher como quem serve só para aquilo e desejasse só aquilo. E na música o homem se oferecendo para aquilo como se a mulher estivesse desejando um quilo e ele tivesse um quilo e meio. E fiquei pensando que este é o Brasil que não precisa mesmo de estudo. Sim! Poderia ser um Brasil de domingos, sem escolas. Sem aulas, sem progresso cultural nenhum.
Quem ia precisar de escola para interpretar as músicas de hoje? Imagina que uma música do Chico Buarque ou do Belchior nos oferecia viagens de variadas interpretações. As músicas de hoje para interpretar basta saber o que é um vai e vem, onde é que o trem entra de onde é que o trem vem. Estava falando sobre isto na mesa e me perguntaram se eu tinha lido a Ilustrada. Tinha? Não, não tinha. O que tinha lá? Perguntei pensando que íamos ter uma boa mudança de assunto naquela noite de domingo;
Era sobre a socialite que virou funkeira: A Helô Quebra-Mansão.
-Como é que é?!
- Isso mesmo! Não tem a Tati Quebra-Barraco?!
- Eu nunca ouvi mas sei que tem!
Pois é!
Agora a cunhada do João Gilberto é a Helô Quebra-Mansão.
A família está morrendo de vergonha, mas ela quer virar celebridade e as letras das músicas são piores que estas que você está ouvindo.
- Tem razão a família estar com vergonha.
Mudando de assunto...
- Tem um homem vestindo uma blusa de frio. Legal isso.
Muito mais legal que discutir a falta de cultura ou o fim da vergonha no Brasil destas músicas.
- Deixa a música para lá, a carne está uma delicia.
- Está sim! Mas é aquele homem que vestiu a blusa é quem salvará minha crônica.
- Ele é bonito!
- Sim, mas não é por isso. Homem de verdade tem que sentir frio. Fingir que não sente dá até para pensar que é do tipo que só deseja exibir machismo. Homem culto exibe sensibilidade.
Voltando às músicas que exibem promiscuidade, Deus que me livre de ouvir essa Helô. Mas deve combinar com o Brasil que ignora diplomas, com as crianças que se prostituem no Pará em troca de cachorro quente. O que elas aprendem com essas músicas repercutem na mente.
www.recantodasletras.com.br/cronicas/1663984