PODE VIR A CORUJA BRANCA
Marília L. Paixão
Um amor afetado por um mal-estar é um amor também adoecido. Pois quando um ser adoece ele não fica metade sadio e metade doente. Ele pode ficar inteiramente desencantado. Metade querendo um remédio e metade querendo paz e sossego. Sossego! Não abandono. Mas as pessoas ao redor acham que por ter lhe dado um remédio já podem tocar pandeiro e aí a gripe afeta o amor verdadeiro.
Amor que reclama, grita, choraminga mas que quer sossego. E os amores sadios querem sorrisos...Se possível sol, cerveja, futebol e toda sua tolerância. Então estremece a barragem do rio. Na pinguela que o amor passava bravio não passa sequer uma andorinha faminta. O céu fica cinza e o nariz não para de escorrer. Já não se escreve: eu morro de amor por você.
Dá para diminuir o volume da TV um pouquinho? Até que dá. Com um pouquinho de raiva dá. Ele se levanta como se levantasse a metade do mundo e se arrasta até TV e traz o controle remoto para o sofá. Será que a gripe aumenta o tamanho do ser amado? Passa tanta coisa na cabeça de um ser adoentado. Mas bem que podia passar o desconforto carnal que nem um carinho físico deseja. Apenas paciência e cordialidade. Como será que morre um amor? Será que se despede?
Seria bom o silêncio da noite. Mas uma coruja dá sinal de vida tão perto da janela e não se cala. Você fica tentada a levantar para vê-la. Até que o faz e começa a sorrir por dentro ao ver uma coruja branca atravessando a rua correndo. Com ela você não briga. Uma coruja não atravessa sua rua todos os dias. Assim como a gripe, ela vai embora e nunca diz quando volta.Talvez ela só queria dizer que o amor é o que mais importa.
Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 08/07/2009
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