Textos

AS ROSAS DA SUA ROSEIRA


Mãe, elas são lindas, são lindas como pássaros de asas bem podadas. São lindas como brilhantes no fundo do rio. E se deixar, vem um vento e rouba as pétalas da roseira em que eu plantei o meu amor por ti no subsolo das raízes.

Não, mãe! Não é por conta do que não escrevi no mês de maio. É que tem dias que a gente fica assim mais dado para o verdadeiro sentimento do que para as cascas das bananas. Por exemplo, eu sei que a senhora nem vai entender essas palavras direito,  mesmo se eu as colocasse dentro de uma caixa de chocolate. Mas há dias em que as maçãs nos fitam das fruteiras e elas parecem dizer algo especial com suas tonalidades avermelhadas.

Por esses dias que se seguem, eu gostaria de estar aí e ajudá-la com estes novos problemas que já chegaram. Nada fácil, mãe, principalmente para a senhora que não sabe lidar com as palavras mais bonitas, sensatas e libertadoras. Mas também, quantos loucos a rodeiam por dia?

Quisera eu dissolver os fantasmas que a rodeiam, atordoam e lhe torturam a pobre alma. Quisera ter certeza que as orações dos domingos lhe fossem benéficas o bastante e lhe trouxesse mais serenidade, amor e paz. Que o lado bondoso e compreensivo da senhora fosse maior que o da frieza ou indiferença. Que a senhora consiga lidar com os problemas sem piorar os males dos outros também ignorantes das palavras ou ressentimentos.

Não deixe que as rosas se percam,  que o galho quebre, pois a vida se perde e não se acha em nenhuma feira livre, mãe. Sabia que eu tenho medo de ser carinhosa com as pessoas e elas me interpretarem errado, mãe?! Será que é a falta dos carinhos que a senhora não me deu? Eu conheci carinho com os amores do mundo mãe!

Será que eu tenho medo de que as pessoas pensem que eu estou amando errado? Sabia que a senhora nunca acertou em me falar de amor? Mas quando é que a senhora falou? Quantos anos eu tive que viver para aprender que muitos dos seus silêncios era amor? Que desde criança eu já sabia que apanhar era por amor, que a educação que eu recebia era por eu ser amada e pelos erros tome varadas!

Nunca reclamei disto, pois os coros valeram. Graças a eles eu não confundo o certo com o errado de jeito nenhum! O silêncio das palavras é o que mais pesava, mãe. Eles moravam nos beijos não recebidos e nos abraços não dados e muito incomodavam. Oh, mãe, cuidado aí com os dias que virão daqui para frente. Cuidado com o ambiente, mãe, mas não com a limpeza. Cuidado com a falta de poesia sobre os corredores, quartos e mesa.
Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 18/09/2009
Alterado em 18/09/2009
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