Ainda bem que 2009 está quase morto. Deixamos de enterrar só as conquistas. Ninguém soltou bomba na hipocrisia da vida. Em minha rua mesmo não há milícias, em meu terreno amoroso não há descrença. Quem eu amo, amo, quem me ama, ama e o amor é sempre uma troca bonita.

E para deixar o ano ir embora fiz uma caminhada sozinha com uma pressa arfante de quem não teme o olhar para frente. Às vezes é mesmo importante suar a camisa, quebrar o galho da rosa, pisar na água da chuva, abrir caminho com o peito. Eu abro ano após ano, pois se eu desistir de abrir eu morro.

Ainda assim faço coisas comuns como a maioria dos brasileiros e sempre que desejo sonhar compro bilhetes e aposto na sorte verde. Venha a sorte ou não e eu me proporciono sonhar com uma vida mais enriquecida sem restrições de fronteiras.  Sabemos que dinheiro é o abridor maior de portas que existe.  A poesia também é claro! A poesia abre horizontes raros.

O primeiro dia do ano chega com os policiais aconselhando a construção de muros nas casas de praia para dificultar invasões de assaltantes. Um belo sinal de que o crime nunca será combatido e a população nunca será protegida. Breve será considerado um fenômeno da natureza brasileira. Uma fala como “Na noite passada caiu uma chuva forte” poderá ser: “Aquela família teve a casa invadida por uma quadrilha muito forte... Nem a polícia daria conta dela...”  Nosso Brasil do dia-a-dia com a crescente força das favelas e da marginalização sem nenhuma punição.

Neste ano o que temos de mais certo é um calendário novo. Imaginem que tudo que for acontecendo como novidade será politicagem. Preparem remédios contra enjôo, contra asco e arrepios de aversões momentâneas. Nossa! Que salada crônica! Já pensou nas fotos que mais estamparão nos jornais? Não pense para não sofrer antecipadamente. Interprete tudo com moderação. Faça de conta que tudo não passa de uma nuvem passageira. Abrigue-se das besteiras. Escreva menos e leia mais, é o que farei em paz.