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A MORTE SEM A DESPEDIDA DE AMOR




Preta por fora e vermelha por dentro. Será que você está me vendo? De qualquer forma, muito prazer. Eu sou a manhã despenteada. Daqui a pouco chegarei ao espelho antes dos jornais do dia. Daqui a pouco o sorriso recomendado pelos dentistas. Daqui a pouco quem sabe poderei ler mais sobre o twitter.

Mais um pouco de café nessa xícara preta por fora e vermelha por dentro que me lembra o Haiti quando não estou me vendo. E estou indo para onde? Para o cais. Vou despedir de mim mesma ou de ti, sombra de passagem pelos meus pensamentos. Lá também velejava um pássaro. Ele tinha o nome de sortudo, pois via tudo. Agora talvez lhe reste a ronda da saudade como a minha. Por que você foi embora?

Olha a vida lá fora. Tantas mortes idiotas acontecendo. Uma cabeleireira é baleada pelo ex marido que a ameaçou inúmeras vezes e ninguém pode socorrê-la. Mãe e filha são atropeladas por um motorista embriagado ao atravessar uma rua de São Paulo bem no dia do aniversário da cidade e eu quero me esconder no cais. Não quero que a morte me visite estupidamente e venha feito um fantasma a entorpecer a mente no porto. Eu não quero trocar memórias de você por nenhuma mercadoria.

Lembra dos beijos que eu te dei? Claro que me lembro de todos. Você morreu sem nem ter se despedido de mim e nunca temo lhe encontrar para uma última partida. Assoviava a vida feito o vento quando nos amávamos e tudo parecia possível com você. Um encontro de despedida não seria o programa do cais nem como reparo de amantes que não se despedem nunca do amor. Mas o mar que te levou podia te trazer de volta para um último adeus. E quem sabe seria sem nenhuma frase solta...
Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 26/01/2010
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