Textos

A BAILARINA DOS PESCADORES

Não teve tempo de amarrar direitinho as sandálias. Não teve tempo de sentir a onda enquanto dançava. Deve ter sido engolida, tragada, rasgada pelo mar sem aviso prévio ou nota de futuro desaparecimento. Não deu para recolher nada, não deu para criar versos dos passos da doce criatura.

E mesmo que na areia tivessem lhe segurado os braços da dança molhada ninguém saberia ao certo se ela já sabia que ia ou se queria deixar-se levar submissa pela brava natureza.

Agora restaria ler na fotografia se ela sabia que seria a última dança. Meiga ou infinita? Que amor teria lhe vencido o peito? Misturaram-se algumas lágrimas ao sal do mar? Ou seria mesmo ele o novo senhor que mereceria seus delicados traços? Ninguém saberia dizer se no ar ficou perdido algum grito da bailarina e pela família foi proibido um memorial. Disseram eles que ela jamais gostaria de ser confundida com sereia por mais que amasse dançar para os pescadores.

Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 18/02/2010
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