Textos


DO OUTRO LADO DO PORTÃO


Estava fora. E lá fora a vida não estava nada diferente do já esperado. Pessoas cantando movidas a alegria e beer. Rostos sentados tão próximos e tão perto de se amarem não fosse a dor de diferentes carnavais a espera da Páscoa somada a uma falta de comunicação veterana e sombria. Voltei para a casa com a mala mais cheia de presentes e no peito a sensação de saudade disfarçada. Sim! A saudade tinha sorrido.

Assim foram os dias em que passei longe. Éramos irmãos sorrindo numa ilha de amor ocultado acompanhados por pais divorciados que dividiam o mesmo espaço por dever e ironia. Não era para a vida ser assim mas ela não se enfeita para os descontentes. A vida é transparente como a chuva. Gostei do encontro, gostei de estar presente e ver meu irmão mais belo embora o tenha sentido mais solitário que nunca. Senti vontade de vê-lo com uma nova mulher. Por que será que achamos que uma mulher é a grande resposta e solução para tudo?

Agora aqui, feliz por ter voltado, estar de frente o meu portão foi gostoso. O atravessei como se ele estivesse cheio de novos dias. Lá do lado de dentro jornais secos e jornais molhados da chuva que caira enquanto estava a meia hora de estrada atrás. Catei os jornais que depois me acolheriam com suas velhas notícias. Mas primeiro eu socorri um envelope vindo de Portugal. Estava encharcado e Ana estava lá dentro. Socorro, Ana! E a socorri depressa. Ela estava enroladinha depois do envelope protegida por um plástico fofo e forte. Retirei Ana em formato de CDs rasgando logo o envelope na pressa de socorrê-la em seu novo formato.

E agora aqui estou eu tocando Ana direto de sua terra para meu notebook. Você chegou direitinho, Ana, e já estou escutando Rua da Saudade. E com saudade do BVIW a saudade adora nomes como o seu, de Vanice, Marília de Dirceu, Alias, Dolce Vita e doce Bia e assim ganharia mais linhas essa crônica com nomes que eu amo e outros tantos que ainda irei amar, pois, afinal, estamos todos aqui é para isso.
Pois essa é a verdade. Escrevemos é para o amor.

Se a dor bate, invade, atropela, rasga o vento e a verdade mesmo sem luz de vela tenta ser breve discursando sobre outras coisas tantas, mas o que nos move é a necessidade de amor maior repercutido em nosso canto e em todo mundo. Deixo essa crônica então para todos que acreditam que através da escrita estamos abrindo caminho para falar disto ou daquilo, mas em busca do amor sincero entre os seres que sonham em propagar o belo, tirando do cotidiano a sensação de tédio dos que acham que o amor é um sentimento morto e as posses o princípio e fim de tudo.
Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 04/04/2010
Alterado em 04/04/2010
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