Das muitas mudanças que fiz levava tudo que importava, mas só desembalava o necessário até ir acostumando com a nova vida. De repente um velho caderno é aberto. Lá dentro o rosto com o sorriso que nunca desejou fugir das linhas. Época dos sonhos? Sonho de fazer parte de um núcleo onde o amor imperasse e fosse a maior de todas as substâncias? Algum sonho pode ter ficado no tronco da mangueira e outros podem ter caído das pinguelas. Um ou outro pode ter se refugiado debaixo das tábuas do alpendre.

Para uma adolescência tímida até que me tornei um ser forte com direito a muitas batalhas vencidas. Quantas faltam?  Sou mais vitoriosa que vencida?Sei que quem perde no amor perde em tudo e pensar que nem sabemos quando é que mais fracassamos nos faz sentir mais perdidos que em plena glória, não importa quantas vitórias tenhamos tidos.

Onde deixamos nossos sonhos? Bem que sabemos, pois um sonho vivido sempre nos visita mesmo que tenha sofrido enxadadas para emoldurar o retrato do esquecimento. Mas esquecer é menos simples que suposto e lembranças permanecem com os sorrisos que soluçariam sem pedir licença num filme de Woody Allen.

Não vale inventar o cisco no olho e fingir que eram sonhos bobos trancados na casa do nunca. Desce um sabor seco pela saliva. Será que seu sonho secou adoecido com a dieta da distância? Apenas fingem de cegos os amantes que não mais se contemplam? Ainda assim algo me diz que se imaginam sorrindo. Vou lá à mesma página e escrevo: sonhos secos, sorrisos vivos. Amo imaginar-te em vida. Com sonhos em fase florescida.