Confesso que morro todo dia um pouco por você não saber por que vivo. Escrevo partículas de mim, de ti e de terceiros de qualquer lugar do mundo. Pois se há algo comum entre os seres é o amor não importa em que dosagem, mas sempre existe por alguém. Por isso, quando há dor, cada um tem a sua, quando é festa, cada um reuni com os seus e quando o assunto é esperança de dias melhores, passa a ser um sentimento universal. Uma coisa é certa: sentimentos de uma casa no campo não combinam com sentimentos urbanos. Mas quem disse que nossos sentimentos são iguais todos os dias? Se hoje fosse dia de confessar, não desenterraria ninguém. Se hoje fosse dia de velar, iria só se fosse com afeto por alguém que muito amasse. Mas aproveitando o espaço confidencial, vamos para meus recentes sentimentos, senhor Deus. Acho que minha mãe está sendo tola sacrificando umas coisas e enviando não sei quantos por cento dos seus pequenos ganhos para uma conta de igreja em São Paulo. Fiquei sabendo disse hoje, mas quem sou eu para brigar com a santa ignorância de uma idosa brava? Quem sou eu para comprar briga com minha mãe logo no mês de maio? Por que ela está fazendo isso? Por conta de um programa de TV religioso que a leva a crer que ela irá para o inferno se não enviar. Adianta, senhor Deus eu falar para ela que o inferno é aqui mesmo e que os reais pecados ela já paga com as dores?