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SE O MEU GOL FALASSE...


Ando pelas ruas em meu gol 2008 fragelado pelos arranhados que ganha do portão quando bate. Mal tenho tempo de lavar o coitado já acostumado com a lida da dona e por isso nem reclama. Se meu gol falasse, me chamaria de muitos nomes. Mas quando passa por mim uma linda lady em um destes carros da altura que um mecânico pode deitar lá embaixo sem precisar de um macaco, sinto na pele o tanto que I AM POOR. E deixarei alguns irritados com o que direi agora: se tiver que traduzir o I’M POOR for you, significa que you are poor too de uma forma ou de outra. Tudo bem que agora o que está em moda é o sujeito dizer que deixou de ser pobre. Mas que dia deixarei de ser? Sonhando? Sonhar como? Escrevendo? Quem nunca sonhou que um dia suas letras ficarão famosas? Talvez se ontem durante o café da manhã ao tentar abrir o pacote de pão integral home made no supermercado e lacrado infernalmente... O maldito lacre que não abre com as unhas, me fez usar uma faca! Esta acertou bem na veia do meu dedão que esguichou sangue em meu pratinho onde colocaria o pão. Se tivesse filmado bastaria colocar no you tube e todo mundo ia querer saber o porquê de todo aquele sangue na mesa do café da manhã.Isso renderia minutos de fama. Mas não! Não fiz isso! Fiquei lá olhando aquele sangue bem vermelho vazando sem ser de cena de cinema. Com a outra mão locomovida pela raiva do lacre assassino e do supermercado, peguei duas fatias do pão e coloquei uma sobre a outra. Inevitavelmente o pão sujou-se com o sangue. Mas era meu sangue e tinha direito de não sentir nojo e mordê-lo assim mesmo serviria para comprovar que somos animais ainda brutos. Não sabia se queria me provar alguma coisa e com a mesma indignação mordi o pão com as gotas do sangue e pensei: I’m poor e pobre passa por coisas muito piores que essa. Em seguida larguei o pão como se tivesse perdido a fome e corri para o banheiro, pois o furo da faca queria fazer jorrar meu sangue todo. I’m poor mas não estou pronta para morrer não, sô! Mineiro luta pela vida e gosto da minha. Procurei material para fazer um curativo e mais tarde fui ao supermercado reclamar do lacre e o gerente se desculpou e disse que pensariam em como resolver o problema dos futuros lacres do pão integral. Entrei no gol sem dizer uma palavra do ocorrido. Se ele falasse, certamente acabaria contando tudo para vocês.



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Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 15/07/2012
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