Uma coisa chamada dissimulação pode dar nome a um silêncio inadequado. Isso acontece quando o outro finge não ouvir uma pergunta ou evita dar a resposta por não saber ainda por onde deseja caminhar sua coragem de encarar a vida ou os outros. Por isso às vezes o mundo se veste com as roupas que ele possui e nos dá umas e outras rasteiras. Mas como é que ele é mesmo?! Ele quem? O mundo? Sim, pode ser o mundo, afinal estamos falando de coisas que querendo ou não acontecem pela vida. No jornal mesmo tem uma charge com uns rapazes armados e eles respondem sobre o crescimento do país: - É claro que o país cresceu! Afinal, quando um jovem como eu poderia ser dono do próprio fuzil? (Angeli)

Claro que nós adultos de idade para lá de formada não desejamos este tipo de crescimento. Mas e quanto aos tipos de silêncio? Silêncio para nós professores é bom quando oferece ambiente propício para aprendizagem. Já silêncio para concentrar em determinadas pesquisas também pode ser bom para todos. Mas e quando o silêncio é usado como arma de disse e não disse, concordei e não concordei ou fingi que concordei para atacar um submarino de madrugada, este silêncio se torna perigoso. Lembrei-me de uma ocasião em que um diretor disse que eu poderia revelar todas as fotos de um evento e que depois ele cobriria os gastos.

As fotos eram para fazer um painel. Pois bem, levei para revelar, entreguei as fotos e ele pagou. Como as fotos nunca foram para o painel, perguntei sobre elas e ele respondeu: que fotos? Você não me entregou fotos nenhuma. – Claro que entreguei! Você recebeu com recibo e tudo e me deu o dinheiro na hora! – Não me lembro disso não! Como a voz dele estava alterada como quem não queria mais conversa saí logo da sala dele. Para que discutir com o chefe?! Há sempre questões mais importantes em jogo em um ambiente escolar. Ainda assim um tanto quanto indignada me lembrei do Lula, mas em boca fechada não entra mosquito. Nunca mais toquei no assunto das fotos.

Um mês mais tarde as encontrei jogadas em uma caixa de papelão numa sala onde se guardam trecos escolares. E no meio delas uma aluna no final de uma noite homenageando John Lennon, enquanto guardávamos as decorações, tinha se enrolado na bandeira dos Estados Unidos e a foto fora batida com ela rindo toda linda. Deve ter sido isso que enfureceu o ex-professor de história e por isso ele não tinha visto, nem recebido e nem pago pelas fotos. Essa história toda é para tentar explicar um pouco do coração dos dissimulados. Anyway, o silêncio continua não sendo resposta, mas ainda é melhor que fingir que não fez parte da história. Seria mais fácil ele ter dito que não queria uma foto ou outra no painel.