BELCHIOR, COMO NOSSOS SONHOS
Como um dia comum se torna atípico?
Não sei. Só sei que deveria virar a esquina meu coração quase em descanso, e ele não virou. Não por causa das batidas ou do silêncio da fala: mas por conta das vacas que subiam o morro. Sorri para aquele gado vindo de não sei onde. Quem sabe Belchior saberia. Quem sabe de onde seu corpo jazia, fugido teria uma parte para outras avenidas.
Quem sabe não tivesse se preocupado tanto em ilustrar a comédia de Dante, poderia agora ilustrar com uma nova canção, aquelas sete vacas subindo o morro da paisagem urbana de onde moro. E mesmo que sua solidão doesse dentro do carro, pessoas como eu, de bairro afastado, entenderiam qualquer loucura de seus amores, desde que seu canto não nos abandonasse.
Nós que éramos os jovens, também não sabíamos onde andavam nossos amores. Os sonhos dos jovens são como ruas desconhecidas a espera de serem coloridas por seus ideais. Naqueles dias, vacas, árvores, carros, sons, bicicletas... tudo poderia virar poesia. Não existia noites mal dormidas e nem sombras nos quintais. Dava-se um jeito de ser alegre como um rio, como em alguma canção ele dizia ser.
Da mesma forma, em um segundo tempo, ao expressar seus desencantos, nos alertava para o futuro; para este agora que acaba de nos arrancar um pedaço. Um pedaço que temos que fazer viver ou resgatar com toda forma de agradecimento. Eu, sinceramente, me recuso a ficar sem. Jamais escutei outras canções, que confortassem tanto, meu coração angustiado.
Marília L Paixão
Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 07/05/2017
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