Jorge Bala Feita andava apressado pelo corredor da favela. Com receio, as velhinhas entravam para dentro quando ele passava. Em um beco paralelo, a uns metros de distância, José da Fé também tinha pressa, mas suas pernas  finas, desciam o beco num ritmo quase dançante.

Jorge estava eufórico. Tinha um encontro com o Lesma para acertarem o rendimento da madrugada. Depois do acerto, voltaria para dormir como também fazem os pecadores. José era puro entusiasmo. Participava do coral da igreja, ajudava o tio na lojinha de santos, e estava no céu com diamantes por ter sido convidado para um grupo de teatro.

Para não se atrasar largou a música da cabeça e apertou o passo. Nem olhou para as janelas para cumprimentar as velhinhas como era do seu costume. Logo que alcançou a rua principal, foi atirado ao chão pela trombada em Jorge Bala Feita que fugia de um fardado. Jorge, armado, pesava sobre seu corpo que ao se levantar foi baleado. José da Fé, gritava: limpo, limpo, irmão! Erguendo as mãos. Eram de universos paralelos no mesmo chão.