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A CHEGADA DA MALDITA (GATA ESCALDADA)
A CHEGADA DA MALDITA
Marília L. Paixão

Estava saindo contente da loja com a colônia escolhida. Sim! A vendedora estava certa. Parecia combinar com o nome dele aquela... E o cheiro era tão bom. Seria maravilhoso abraçá-lo e sentir aquele cheiro fresco como se fosse o cheiro da manhã. Por um segundo chegou a imaginar-se largada nos braços dele. Durou só um segundo o pensamento. Este tinha sido subitamente interrompido pela presença de... Nada mais, nada menos do que a paixão mais forte que já sentira. O homem que mais tempo levou para conseguir ficar sem e ainda assim lutando muito com todas as suas fraquezas. Tanto as dela quanto as dele: Roni. O nome completo era Ronildo, mas todos os chamavam de Roni sem exceção nenhuma. Entre os familiares, amigos... Ele só usava o nome todo ao assinar algum documento. Estava tão bonito! Com certeza estava indo comprar presente para a nova namorada.
- Que surpresa!!!
Ele realmente parecia muito feliz ao vê-la. Ela se sentia tão fora do lugar que se pudesse escolher desmaiaria um pouco a ter que fitá-lo. Ou estaria longe, bem longe dali. Estaria onde não pudesse lhe ouvir a voz ou ver o corpo. Mas aquelas eram as emoções do passado. De forma alguma iria ficar eternamente dominada por essas recordações.
- Como vai?! Também atrás de um presente para o dia dos namorados?
- Sim e não! Na verdade vim comprar algo para a Carlinha presentear o namorado dela. Ela pediu que comprasse a minha colônia favorita. Não posso negar esse favor para uma irmã tão querida como ela. E você o que anda fazendo?
- Estou ótima, mas bastante atrasada. Preciso ir.
- Eu posso te dar uma carona! Não vou demorar. É só pedir e pagar.
Olhou o relógio e ficou tentada em aceitar o convite, mas não achou conveniente. Afinal, nem conhecia Dirceu direito. Não seria legal chegar com ex namorado e muito menos gostaria de apresentá-los.  Agradeceu e saiu da loja às pressas levando suas lembranças. A lembrança que levava na bolsa para Dirceu era tão pequena comparada com todas as que lhe voltavam em mente com aquele encontro. Como se precisasse do encontro para pensar nele. Sacodiu a cabeça. Será que ele tinha mentido em relação ao presente? Será que não lhe enrolou com aquela conversa de presente para a irmã? O que importava? Poderia agora comprar a loja inteira para a nova namorada se é que estava fazendo um bom dinheiro como diziam as boas línguas. Tiveram uns pedaços difíceis juntos. Roni esteve um bom período desempregado. Ela agüentou muitas pontas e seu dinheiro cobriu várias das diversas despesas que os dois tiveram.
Finalmente estava em frente à pizzaria de frente a praça. Tinha ficado de encontrar Dirceu bem ali. Ele ainda não sabia onde ela morava. Nunca tinha tido tanta prudência num namoro quanto estava tendo com aquele. No início ele estranhou. Mas ela foi convincente. Ele não estava lá. Será que tinha desistido de esperá-la? Olhou o relógio. 55 minutos de atraso! Nossa! Que horror! Ela também não ficaria a esperar tanto tempo por nenhum cara. Deixou que o olhar percorresse toda a praça. Havia algumas pessoas em volta da fonte. Alguma coisa errada? Um menino saiu de lá e passou perto dela.
- Tem alguma coisa acontecendo ali?
- Não! Só um cara tentando pegar as moedas da fonte.
- Deve ser algum louco.
- Sei não! Ele não parece louco, mas também não dá para entender.
  Ela pensou melhor e antes de ir embora deu uma olhada dentro da pizzaria. Não tinham combinado de encontrar lá dentro, mas quem sabe ele tinha se cansado de esperar em pé e resolveu sentar.  Pensar assim era melhor que pensar que sua noite estava perdida e que ele tinha ido embora. Um pouco sem graça percorreu toda a pizzaria. Uma família em uma mesa, um casal em outra... Estava muito cedo para grandes movimentos. Nada do seu Dirceu! Saiu desolada. Lá fora o movimento ao redor da fonte aumentava. E se ele estivesse por lá entretido com o tal caçador de moedas? A esperança era a última que morria. Foi. Ou ela estava vendo coisas ou ele era o caçador de moedas da fonte? Cada louco com sua mania ou era ela a nova louca imaginando coisas? Eram dois os caçadores de moedas. Ele era um e havia um outro com aspecto mundano. Mas o que fazia seu namorado ali? Estava namorando um louco?
- Dirceu!!! Gritou bem forte.
- Chegou a maldita!
Disse ele com um certo brilho no olhar. Todos olharam para ela. O companheiro da fonte soltou uma gargalhada.
- Vá cuidar dela! Pode deixar que quando eu achar eu farei bom proveito.
- Dirceu não se moveu. Por algum momento agiu como se não soubesse o que fazer.
Mas a pequena multidão parecia sorrir. A multidão parecia saber bem mais que ela sobre Dirceu, sobre a fonte, até sobre ela. Muitas vozes perguntaram e depois pareciam repetir em sorrisos.
- É ela?
- Sim... É ela!
- É ela a moça! Esta é a namorada dele!
- Moça! Não briga com ele!
- Não brigue com ele moça!!!
- Ele é seu namorado, moça?
- É ela sim!!!
- É a maldita!!! Gritou um dos loucos de dentro da fonte.
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Essa é a continuação de “ESPERANDO A MALDITA”; “A MALDITA TRANSFORMA O HOMEM EM MALDITO”; “ A NAMORADA DO  MALDITO” e tem mais... vindo por ai... Abraços, Marília.

Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 07/09/2007
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