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ESCREVER BEM É MAIS QUE HUMANO OU FANTÁSTICO




Se eu guardasse num quintal dentro de mim as mesmas coisas que o Belchior guardava no dele, estaria perdida entre as filosofias de Dante e as que nunca tive. Não bastasse saber que a vida literata é contrária a uma vida saudável, Joao P. Coutinho diz que a busca da glória literária é insana e quase sempre condenada ao fracasso. Será por isso que Adriana Calcanhoto andou pelo mundo pensando em cores que não tem nome, e depois foi pelas ruas de Portugal encantar pessoas com seus dons multiculturais?

E nós, a quem temos encantado? Mais vale aquele sorriso de satisfação que damos ao final de um trabalho, bem antes de pensar em quantos elogios ele receberá ou não. Que a glória é essa satisfação primeira. Assim como não se devem projetar sentimentos a quem eles não pertencem ou idealizar profissões a quem não as deseja, o devaneio da glória deveria ser riscado da lista dos desejos dos novos artistas ou escritores?

Posições pouco saudáveis podem fazer cronistas abandonarem a escrita. Quando um escritor tosse e se levanta, pode não ser para acender um cigarro num gesto arcaico e primitivo, mas sim, para abrir um vinho. E para onde viaja sua mente em momentos de pause como este?

Não há receita funcional para os segredos da escrita. Escritores do BVIW poderiam esboçar rascunhos, mas não conseguiriam dizer essa é a minha ou nossa fórmula. Por que um rascunho por mais que venha de dentro não se completa sem estar aquela alma envolvida em sua totalidade.

E assim, Ana poderia estar com as pernas cansadas e teria que escrever rápido para sair logo do computador. Djanira em instante de luz dependeria daquele brilho, daquele instante, daquela aurora. MLP poderia ter acabado de se ferir com alguma lasca de lenha ou levantado no meio da noite com uma sede de tudo. Jaciara poderia estar analisando detalhes de uma ou outra mudança. Amor ou segurança? As duas palavras significam tudo que o amor alcança. Conceição quando desaparece, está fazendo arte em preces ou em novas páginas da vida? Gisele possui forte biografia, nem precisa de uma nova sílaba. Marisa anda pelas praias Piedras com tudo que tem direito e por hora escrever não é seu defeito. Zamari é puro sentimento! Como um calendário novo, depende das páginas do dia, do tic tac do seu coração que nunca bate em vão e nos dá alegria. Vanice é o que faz refletir a poesia. De um quadro, de um pássaro, de uma fenda... Vanice sabe como enfeitar uma encomenda, seja com bordados ou com rendas. Zélia Freire possui uma escrita que não precisa pedir passagem. Possui um ticket que diz muito prazer! A filosofia não é um amigo oculto ou incerto, é o que lhe incendeia ou clareia o dia. Se o BVIW tem alguma fórmula para oferecer, é a do amor pelas letras da vida, pelas suas pelas minhas.

Nenhum escritor está fadado ao fracasso se ele tem a emoção da vida como guia ou itinerário. Fora tudo que a vida permeia, cabe à literatura embelezar, fantasiar, denunciar, criar motivações para que o bem sobreviva a tragédias e fortifique novos horizontes. No final, prazer e arte se misturam. Não há prazer em criar sem sinais de que de alguma forma se melhora a vida.

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Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 29/12/2018
Alterado em 12/08/2020
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