BANDEIRA INTACTA
BANDEIRA INTACTA
Marília L. Paixão
Ela está empoeirada. Desde que chegou está perto daquela mulher que está sempre de costas. Culpa do Salvador Dali. O som está desligado. Estão silenciosos os portas retratos. Nenhuma dor me convém.
A janela do sol de hoje ainda não foi aberta. O de ontem não iluminou esta manhã. Mas eu sou aquela que insiste em brilho cego. Luto com o meu superego e olho à tarde por vir...
Ainda me restam duas bandeirinhas limpas.
O que me desanima? O que me convida? Uma grande bandeira empoeirada? Uma bandeirinha limpinha? Olho para ela tão bela, tão intacta... Se não fosse amada não doeria nada repará-la sujinha. Como podemos amar assim uma estrangeira pátria? Mas é tão fácil! Basta recordar onde o ser feliz nasceu primeiro. Onde o amor ganhou o nome de verdadeiro e principalmente onde as maiores dores aprenderam a irem embora.
O ser cresce quando consegue inutilizar a dor envelhecida. O ser cresce quando reconhece o chão que lhe fez bem. A gratidão eterna é sempre bela e faz bem para a retina. Uma alma agradecida sorri mais facilmente que uma alma esquecida. Por isso não esqueço das minhas listras vermelhas e brancas e muito menos das minhas estrelas brancas de fundo azul.
Preciso encomendar uma bandeira nova? Não! Ela está ótima. Talvez precise apenas de um novo carinho por vir. Posso subir numa escada e chegar até ela com prazer. Ou posso pedir à mulher do Dali para se virar um pouquinho e beijá-la por mim.
Enquanto isso há pessoas que pensam que nacionalismo é o amor por apenas uma pátria e que quem ama a alguma outra não ama a própria. Ao mesmo tempo mãe pode e deve amar todos os filhos. Mas deveria então amar mais e verdadeiramente só ao primeiro? E quando a mãe viaja e tem metade dos filhos em terras alheias? E quando os filhos florescem mundo afora em buscas de outras conquistas? O filho é ingrato? As mães são mal vistas? O que é verdadeiramente pátria? O que é que nos dá vida? Pode parecer filosofia, mas a felicidade a tudo implica. Uma pessoa que não consegue compreender o amor por mais de uma pátria, também não conseguiria entender a existência do amor de mãe biológica e da do amor da mãe adotiva. Então eu pensaria que uma criatura desta teria dificuldade em entender o amor de qualquer forma. Quantas formas de amor existem? São tão inúmeras... Talvez essa pessoa não entenda ao certo é de amor nenhum. Por trás de excessos de nacionalismo há sempre um atraso cultural doentio querendo se impor. Quem sabe a intenção é muito mais maligna que idealista? Olha a Venezuela com um tal de Chavez ameaçando fechar escolas particulares caso elas não sigam seu socialismo ou morte. Isso é que é falta de respeito e pudor. De que vale patriotismo imposto? Patriotismo forçado gerará o quê? Ah! Tem o caminho da morte já no slogan reforçado. Há bandeiras que dizem tudo, há outras que sofrem por nada.
Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 22/09/2007
Alterado em 24/09/2007
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