COMO UM NADA PELO CHÃO
COMO UM NADA PELO CHÃO
Marília L. Paixão
Queriam dormir as borboletas depois de uma noite totalmente assombradas. Mas de tanto medo o dia estava aflito e sequer conseguiriam imaginar uma outra noite como aquela. Precisavam de ajuda. Estavam em pânico! Ouviram dizer sobre terapia... Pensaram, pensaram, mas decidiram que não ia ajudar muito. Disseram que durante uma terapia coletiva teriam que contar tudo que ocorrera e que sentiram para todos ouvirem. Elas não queriam contar, não queriam comentar e sequer recordar. Até que finalmente uma concordou e foi lá sozinha desabafar em nome de todas. Demorou um pouco para começar a falar... Mas depois soltou tudo de uma só vez:
- Era uma noite quente insuportável. O dia não tinha sido nada prazeroso. Estávamos tão cansadas e até quase molinhas já deixando-nos vencer pelo sono em qualquer cantinho, em qualquer lugar... Foi quando apareceu aquele ser imenso nos catando de tudo quanto era canto com um vento quente que não refrescava e muito nos aturdia... foi nos juntando num redemoinho só e nos levando de encontro à parede também quente, nos fazendo bater lá e depois cair no chão e voltar a bater e cair no chão... a gente tentando recompor nossas asinhas, mas o vento quente não parava e só nos levava de encontro à parede... e cada vez mais as nossas asinhas iam ficando molinhas... parecia que iam virar pétalas de florzinha e íamos ficar nuazinhas de tudo e acabaríamos sem poder voar, sem como nos salvar... Já praticamente estávamos nos vendo varridas na manhã seguinte, totalmente sem asas nos corpinhos, indigentes pelo chão quando uma moça apareceu e desligou aquele gigante barulhento. Eu mesma já não estava sobrevivendo. Fomos devagarzinho, uma por uma, para debaixo da cama. Assim que recuperamos o fôlego fomos uma por uma tentando mover as asinhas para naquela casa nunca mais voltar. Muitas de nós conseguimos. Muitas não. Muitas ficaram lá. Seriam varridas sem asinhas... Muitas provavelmente foram pisadas como sendo um nada pelo chão.
Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 24/09/2007
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