ATENÇÃO COMO MELHOR REMÉDIO - BVIW
Quase todo dia vem a noite e vem o dia. Há dias que parecem noites em dobro. E então o sujeito conta as pétalas de metal do arranjo da sala. A mulher deixara morrer as plantas verdes do quintal e os crisântemos sem atenção não duram mais que quinze dias. Ninguém tem culpa, mas ela não entende e coloca a culpa nele.
Ele que vê a vida passar como em um palco sem prendas. Ela que era sua alegria predileta, nem repara sua escondida tristeza. Enquanto janta sozinho, sentindo-se velho, mas não acabado; sentindo-se acabado, mas não tão velho, ela tão longe dali, olhar perdido, ocupada com o vazio do rancor.
De nada valia a riqueza acumulada. Daria tudo para que seus olhos voltassem a brilhar por ele. Que o filho perdido chamasse por outro, assim como sua alma deveria chamar por outra. Mas com o tempo desistira de engravidar a mulher. Ou fora a mulher que desistira dele?
Ela que vivia amuada entre respingos do passado ou chuviscos incessantes. Talvez precisasse de um médico... mas decidiu por comprar-lhe um livro de autoajuda. E não é que os olhos dela brilharam como fazia tempo ele não via?! Se livros funcionasse melhor que flores, assim seria! Passaria mais vezes na livraria.