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A cor que satisfaz
A COR QUE SATISFAZ
Marília L. Paixão


Pintou as mãos. Com as mãos lindas pintadas pensou no negro. Foi um pensamento intenso! Aquilo era uma verdadeira loucura que vinha se repetindo, uma atrás da outra. Todas intensas. Disse que ia parar com aquilo. Estava cansada de saber dos malefícios. Se bem que dos benefícios também não se esquecia. Ainda não havia confidenciado aquele novo segredo sequer com o seu terapeuta. Tem coisas que quanto mais ocultas, mais intensas! Dava aquela vontade de correr para um canto onde lá estivesse um, pelo menos um, esperando por ela. Sorriu como quem pratica a maior arte contra si mesma e, portanto ninguém poderia culpá-la de nada. Não estava fazendo mal a ninguém, portanto não era da conta de pessoa nenhuma seus prazeres e conseqüências destes. Afinal, era solteira, não estava traindo nenhum amor e a ninguém devia satisfação dos seus atos, preferências, aventuras ou outras crenças. Cada um com suas fantasias, cada um com suas loucuras, cada um com suas fraquezas sejam lá de quais naturezas. Não precisava de coragem nenhuma para correr até o local mais próximo onde se encontraria com o primeiro que lhe alcançasse as mãos e pudesse lhe deixar enfeitiçada. Cederia sem nenhuma resistência. Ela já estava sendo familiarizada por eles. Ela se aproximava e eles já sabiam que um deles seria o escolhido. Estavam sempre lá como que prontos para lhe servirem e lhe acompanharem até sua casa. O bom era que eles não brigavam entre si. Ficavam silenciosos, um respeitando o outro, cada um aguardando sua vez... Eram cúmplices. Eram fiéis, eram de qualidade. Depois de chegar em casa, gostava de começar a desnudá-los ainda de pé. Sua vontade mesmo era de rasgar-lhe a inteira alma. Aquela roupa era até delicada para tamanha força, tamanho fascínio e maior ia ficando a dependência de tê-lo em mãos. Era começar a rasgar aquela capa superficial e protetora e a já sentia a boca se abrir de desejo. Até as narinas se aproximavam amando aquele cheiro único. A boca já se abria e sabia que estava totalmente entregue aquele número cinqüenta e cinco. Ainda não tinha chegado aos cinqüenta e cinco e provavelmente quando lá chegasse já teria passado da entrega número cinqüenta e cinco. Quantas vezes mais se entregaria aquela loucura que parecia não querer diminuir? Toda vez que acontecia, anotava. Um dia escreveria sobre eles. queria mesmo era que antes que ela morresse, eles não deixassem de existir. Estava cada vez mais apaixonada pelo talento daquele garoto cinqüenta e cinco por cento cacau. Vinham com amêndoas intensas. Nenhum chocolate do mundo ganharia daquele. Como a coca zero, aquele tinha vindo para ficar. Aquele sim! Faria visitas freqüentes ao seu lar. Amargo seria não tê-lo.
Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 29/09/2007
Alterado em 29/09/2007
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