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TODAS AS HORAS E TODOS OS TEMPOS - BVIW




Tininha não estava feliz. Aquela coisa do marido voltar para casa com um cheiro diferente a encafifava. Até o jeito dele chamá-la de Tininha não parecia o de sempre. Teria um pingo de deboche ali como se ela lhe parecesse um tico de mulher? Encheu-se de rodeios, mas conversou com Julieta Rosa, tida como a mulher mais entendedora de coisas da vida na cidade. Ela cobrava por conselhos, mas não lhe cobrou nada não. Era feminista, diziam outras. Acabou lhe tranquilizando. - Ele é um homem bom. Pode acreditar que não possui a natureza dissimulada dos que traem. Satisfeita, Tininha voltou para casa pensando no tanto de amor que passara a vida doando ao seu homem. Um amor que daria uma prosa poética. Que se saísse de uma poesia nem teria durado tanto tempo. Seu amor era verdadeiro do sol da manhã à lua da meia-noite. E da lua da meia-noite ao sol da nova manhã era suave como os roncos dele. Mas os roncos também deram de aumentar, assim como os engasgos, as tosses, a falta de apetite e até o cheiro do suor. A verdade é que o seu amor mais forte que poesia, mais bonito que prosa poética, estava adoecendo. Ela não se importava mais de ouvir o Tininha cada vez mais diferente do original. Não deixaria diminuir o amor verdadeiro da lua ao sol, do sol à lua. Que como ela o entendia, servia para todas as horas e todos os tempos.

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Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 11/12/2019
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