QUANDO LAÇOS SE DESFAZEM ABRUPTAMENTE - BVIW
Em 1971, Chico Buarque usou versos alexandrinos para contar a história de um trabalhador que morreu na contramão atrapalhando o tráfego. Essa história musicada teve um resultado brilhante e emocionante, cujo sucesso se reproduzirá em qualquer instante que alcançar novos ouvidos. Talvez mais pela riqueza poética, que pela denúncia social, mas principalmente pela forma com a qual embeleza o cotidiano de mais uma vida perdida.
E hoje, nesta data deste ano. Que vida seria embelezada este tanto estando na contramão? Nestes tempos que basta um suspiro escapado em hora errada para ser julgado pelas redes socias, iremos nos sentir tal qual outro compositor,
"crucificado e varado pela lança que não cansa de ferir” * (Como se fosse pecado) - Belchior.
Passado um tempão, a década permite individualizar-se. Neste processo, quantos vão e quanto vêm na contramão? Quem sou eu? Quem és tu? Quem vai brigar com quem? Quem vai querer conhecer alguém a fundo? Corona Kiss parece combinar com o astral humano. Quem tem tempo para o outro enquanto se encontra a passos do abismo? Na contramão do beijo, do abraço, do feito ou do não faço, do calo ou não calo, do bullying sofrido cotidianamente no fundo da alma inquieta e sombria; quem tem tempo para o outro? E quem pode ser cobrado por não ter? Dessas incertezas, nem laços de sangue escapam.
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