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A DOADORA DE CONSELHOS - BVIW



Estava no supermercado e alguém lhe gritara por trás da máscara: - Telma!!! A Telma do Júlio? – Sim! – E cadê ele? – Está vendo futebol, não dirigi quando bebe. Esforçou-se para lembrar do cara e nada. Mas vocês estão firmes né? – Sim! O conhecido se fora. Não era amigo de frequentar a casa ou já teria lhe fritado linguiças, picado frios como tira-gosto...pegado cerveja na geladeira...
Eles estavam firmes como nuvens que rompem trombas d’águas. Firmes como a linha de uma pipa que fica agarrada num poste. O poste querendo cair e a linha querendo se soltar. Firmes como o splash da água de uma piscina ou como um leite entornado. Uma coisa não podia reclamar de Júlio: Era todo seu somente. E quando se queixou com uma amiga ela lhe dissera: Divórcio custa caro! Deixe como está. – Acabou deixando. Enquanto ela queria voar, ele era pura terra. O tempo passou e conformou-se com as diferenças. Separar-se para quê? Via no marido um gigante desvanecido e seus olhos pareciam tão cheios de amor por ela que ficar sem aquele amor poderia ser penoso demais. – Então esqueça! Esqueceu tanto que perdera o contato com a conselheira.
Um dia, depois que ele partira, fora na igreja com esperança de revê-la e agradecer pelos conselhos. Um deles era que cada um tinha seu fardo para carregar. Diria que os anos a mais com o marido foram de paz. Na Igreja disseram que esta tinha abandonado Cristo, largado mão dos filhos e saído do país. Ela tinha idade, mas nenhum juízo, disse a senhora. Telma murmurou: - Nunca fui de lhe dar muitos ouvidos.
- Sorte sua! Ela fugiu com o marido de Débora.
                                                   
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Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 28/04/2020
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