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A SENHORA VAI AMAR - BVIW


Lembra quando sentar perto e ouvir o outro conversar equivalia ao mesmo que adquirir um pouco de conhecimento enciclopédico? Dona Célia gostava das visitas de Reginaldo à família e entendia o encanto da filha por ele. Anos depois se casaram e os rapazes que vinham por conta das filhas mais novas eram bem diferentes. Eram donos de uma sabedoria guardada. Tinham pressa de se enfurnarem entre notebooks e celulares.

Uns mais extrovertidos faziam comentários: - Que roupa bonita Dona Célia! – Fulano é só amigo, mãe, pode ir tirando ideias da cabeça! As conversas eram vazias e mais curtas que esticar o olhar para o tempo. Ideias? Só se fossem as delas. Ninguém conversava mais com ninguém. Tinha que adivinhar quando suas meninas estavam com problemas. O mundo agora era o que a TV chamava de novas mídias. Nem a vizinha alongava conversas – Tudo bem aí? – Tudo! Com o tempo as pessoas pararam de conversar até nas filas. Não eram só suas meninas. A cidade mudava. Ela também ia mudar. Pois sim!

– Filha! Quero aprender a usar isso aí que vocês não desgrudam por lei nenhuma. – É Smartphone, mãe! A senhora compra um novo para mim, fica com o meu e eu ensino a senhora. A filha chamou logo a mãe para perto. – Além de telefone, tem TV, blá, blá... – Filha, fazia tanto tempo que a gente não conversava este tanto!  – A senhora vai amar, mãe!
 
Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 07/07/2020
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