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A MENINA DO CORAÇÃO DESCOMPASSADO - BVIW
 
Tão miudinha era Aninha que seu coração parecia enorme em seu peito. Enorme por bater como uma máquina que bate roupa. Talvez não fosse seu. Talvez herdado de um homem enorme. - Você fala cada coisa Aninha! – Seu pai é baixinho, sua mãe é alta, talvez uma mistura do coração deles dois. – E se eu não fosse filha dele?! – Agora exagerou geral! Sua mãe é uma santa! Isso ela era sim. Mas será que sempre fora? Tão bonita ela era...Mas ela puxara ao pai. Ele tinha mesmo um coração bondoso com um olhar que se perdia no fundo do rio dos seus olhos quando ela estava triste. Fazia isso para lhe oferecer um bote de salva vidas, dizia ele.

Mas era intrigante aquele coração não parecer lhe pertencer, e estava disposta a desvendar o mistério. Agasalhou-se bem. Calçou botas e experimentou seus maiores passos. À medida que iam ficando largos, mais o coração queria sair do peito e era como se carregá-lo, doesse. O sentia em diversos formatos enquanto alargava as pernas pela avenida. Tinha um coração que virava triângulo, retângulo e até tronco de árvore. Antes de chegar ao destino trombou com a mãe.

– Epa!!! Estava indo me encontrar? – Estava. Mas tinha que esperar o coração voltar a ser coração para ter coragem de perguntar o que queria. – Mãe, quando é que a senhora vai realmente me contar como é que vim ao mundo? - Eu sou uma feiticeirinha, mãe? – Por que está me perguntando isso, filha? – Porque exagerei nos passos e movida pelo cansaço, transformei pelo caminho um sapinho em banquinho. - Ele disse que não era inverno em meu coração e agradeceu por aquecê-lo. 

- Escute, filha! Quando Deus me perguntou se eu queria menino ou menina, eu respondi que podia ser um anjinho.
Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 16/02/2021
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