NADA VEIO, SÓ O AGUAPÉ NA LAGOA - BVIW
O pronome indefinido NADA me leva para o Aguapé de Belchior, que rondando o poema de Castro Alves, adentrou com R. Fagner em uma casa que não tinha lá fora e não tinha lá dentro. E o que poderia acontecer neste fim de moradia se não fosse o aguapé da lagoa a nadar sobre a água? Nada. Absolutamente nada.
Eu poderia abandonar os versos dessa canção e todo o retrato da casa em decadência e solidão. Por onde a morte já havia entrado e fechado o portão pulando para o buraco do terreiro ou
pelo figo da figueira que o passarinho beliscou. Mas não! Hei de conduzir essa lenda para uma crônica e não para um conto. Na crônica essa casa cheia de nada ou de desigualdade social ainda está de pé dando abrigo a cobertores em frangalhos que beiram lagoas mortas.
Na cidade, Adriana Calcanhoto fala de micro plásticos nas barrigas dos peixes que chegam às nossas. Caetano disse que
presos são quase todos pretos, ou quase brancos pretos de tão pobres, mas acredita que temos a grandeza épica de um povo em formação. Volto para o Aguapé.
A velha sentada o ruído da renda, a menina sentada roendo a merenda. As casas de hoje não têm lá fora, mas ainda têm o lá dentro. Alguns com cobertores de ricos, outros com cobertores de rio. Mas isso não é nada, nada, nada não!
Marília L Paixão
( Inspirado em Aguapé de Belchior e referência a canção Haiti de Caetano Veloso.)
https://youtu.be/KFrvL6m21RQ
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Para o tema:
pensei mas veio nada não.