QUANDO ELA ME TROUXE O PARAÍSO
Marília L. Paixão (sobre um hobby)

Eu tenho três bandeirinhas fincadas numa cesta cheia de maçãs.
A primeira se chama Isaura
A segunda se chama Isaura
A terceira se chama Isaura
Isaura é meio ídolo, meio guardiã
Isaura é uma das minhas irmãs.

Eu tenho vários chinelos de ficar dentro de casa
Dois deles são meus favoritos
Isaura os trouxe dos Estados Unidos
Ela sabe das coisas que para mim fazem muito sentido
Saudade ganha as cores que eu sinto

Num domingo ao buscar o jornal no primeiro andar
Na pressa, os chinelos esqueci de trocar
Acabou que Isaura me acompanhou até lá
Mas no caminho dentro do elevador entrou uma família
E uma menininha pelos meus pés se apaixonou
Um chinelo tinha estrelinhas e o outro listrinhas
Um azul e o outro vermelho
A menina achou que eram um novo tipo de espelho.

A jovem mãe fez cara feia para que a menininha não falasse besteira
A menina engoliu a fala e eu meus pensamentos, minha risada
Isaura certamente ia querer morrer se não pudesse se esconder sob os meus pés
A porta do elevador se abriu a família atrás de mim, partiria...
Peguei o jornal, voltei e sorri para a menininha
Para a família eu devo ser a louca do chinelo colorido
Para mim eu sou a que carrega a saudade que eu sinto.

E Isaura? Isaura sempre que viaja me pergunta:
Quer que eu traga alguma coisa?
- Claro! Traga qualquer coisa que tenha as bandeirinhas.
Isaura já me trouxe adesivos, bandeiras, lápis e até brincos
Já me trouxe camisetas, perfume, chaveiros e outros artifícios
Quando Isaura me trouxe os chinelos
Pensei: Agora ela me trouxe o paraíso.