Lendo a neurocientista Susana Herculano fiquei sabendo que há na região do cérebro uma zona incerta, que é atraída por novidades. Recentes estudos a ligam ao que está prestes a acontecer, como se a zona incerta ( nome dado por desconhecerem até então sua função ) transformasse a expectativa em ação se preocupando em registrar não o que é ou está, mas o que passa a ser. Amei este artigo! Acho que a zona incerta do meu cérebro boceja quando de cara com o início de um lado A de alguma história, me faz perder o interesse pelo lado B.
A vida não é mais previsível como as músicas de um vinil e não temos mais o conforto de curtir os dois lados com a antiga calma. Tudo que desmorona diante nossos olhos aflitos, aumenta todas as incertezas. Já nem sabemos o que realmente é real ou fantasia, como cenas mortais em set de filmagem, onde quem morre não é nem bandido, mocinho ou coadjuvante. Então você pensa em voltar a fita, para ver se entendeu direito.
Viver tem oferecido marés chocantes. Nem dá tempo de rebobinar as surpresas. Essa parte do cérebro está ali em vigília diante dos ataques naturais, sejam de rochas, dilúvios ou da mão humana. Mãos que fazem ou deixam de fazer; que rejeitam dar assistência. O lado A e o lado B das canções já não são todas ouvidas e o blind spot da vida aumenta.
Marília L Paixão
Obs: blind spot = ponto cego