Meu pai faria 87 anos hoje. Não lembro quantas vezes ele me pegou pelas mãos mas foram inúmeras. Minha irmã caçula não chegou a conhecer o WhatsApp e quando lhe apresentei ao e-mail já não conseguia digitar as palavras. Sinto que cheguei num ponto em que eu mesma tenho que me dar a mão. Além dos que se encontram geograficamente distantes. Estamos todos ocupados com a própria sobrevivência.
Agora eu entendo quando a minha outra irmã dizia que depois que ela guardava o carro na garagem, que ninguém pedisse nenhum favor lá fora pra ela não. Há coisas que só entendemos depois que chegamos à mesma idade. E é idade suficiente para saber que meus vacilos pela vida nem merecem ser cogitados como pecados. Sou vítima de erros próprios da inocência e de falhas do pensamentos entre outros causados por bebida enquanto jovem demais. Agora, jovem de menos. Bebo menos que como brócolis. Vivo ocupada em me pegar pela mão procurando um caminho para o amanhecer feito uma bandeirante da sobrevivência.Minhas noites são de lutas desiguais e meus algozes se aproveitam disso. Ficam tentando me adoecer noite após noite enquanto mereço viver com saúde dias e mais dias. E tenho quem precisa de mim.