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PERDIDO O CONFORTO DA FÉ... 

 

 

Joana Maria andava ressabiada com os novos hábitos de Paulo Pedro. Até a caçula Rita percebia que o pai andava esquisito. Já não chegava da lida brincando com seus cabelos ou lhe fazendo uma graça qualquer. Joana via o homem taciturno, calado, diminuído.

 

- O que está acontecendo, Paulo?

- Está tendo movimentação estranha na redondeza e entraram na fazenda do Acácio, deixaram ele com os buchos pra fora.

- Você está brincando?!

-Não! Não estou... E não tenho nenhuma arma em casa, você sabe.

- Seu Acácio era caçadô. Tinha arma de sobra, e adiantou? E nóis num temo nada pra ninguém querer roubar.

- Mas tem você, tem a Rita...

 

O certo é que pela estrada, Paulo Pedro sentia arrepios após cada barulho estranho. Já não pensava nos bichos naturais e qualquer carro que passava lhe assombrava. Mas como dizer isso para os que ele tinha que cuidar? Agora tinha aqueles pensamentos desassossegados pela estrada da horta. Queria pensar como Joana Maria, sempre otimista com a vida. Devia ser o padre quem lhe dava essa garantia.

 

Passado um tempo, igreja depredada, padre desaparecido. Paulo e Joana assombrados pelo medo e vazio, pensavam em mudar de cidade e destino. Lá fora, Ritinha brincava de pentear os cabelos com uma casca de coco. Serenidade era o voo dos passarinhos.

Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 12/07/2022
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