Sem afeto, desejo não - BVIW
No bairro da Canaleta, as meninas de 16 anos eram prendadas em como fazer sexo sem pegar barriga. Josefa, das mulatas, a que mais atraia olhares dos rapazes, fingia que não reparava os de Rui De Castro, filho de um advogado branco famoso pelos lados de lá. Rui apareceu numa tarde de pagode. Abordou a moça sem muito molejo, mas saíram para uma volta de carro. De lá para uma beira de rio, uns gracejos e nada de beijo e Josefa estranhando se sentiu numa roubada. Agradeceu o passeio, a vista bonita, mas queria a música, a dança e com instinto em alerta, falou com jeitinho:
- Vamos voltar pro pagode?
- Mas assim, sem nada?!
- Sem nada o quê?
- Pensou que eu ia te beijar na boca, fazer declaração de amor pra depois transar?
- Pensei nada não. Vim só pelo passeio mesmo, conversar com um cara bonito, intelectualizado, diferente...
- E eu pensei que você faria serviço completo sem eu precisar dizer nada.
Com medo de ser forçada a alguma coisa, Josefa mentiu sem pestanejar:
- Cara, se eu fosse garota de programa, ainda assim não ia rolar! Estou com uma DST brava. - Vamos embora?!
Nem precisou pedir de novo.
De volta ao pagode sem o branquelo cheio de si, Josefa se viu dançando com alívio enquanto um de seus fãs da periferia colocava uma flor em seu cabelo. Aquele toque de afetividade fazia seu sorriso estampar no espelho.
Marília L Paixão
para o tema: Ares do Racismo.