Houve um tempo em que brincar de vendinha com folhas verdes do café era tão pueril como não saber fazer contas ou que valor deveria ter o que seria vendido. Quando a brincadeira acabava ou quando a tia chamava para o almoço, ficava tudo ao vento...
Será que escritores independentes brincam de vendinha com a mesma timidez que os versos teriam na infância? Será tudo uma questão de idade, fases ou redes sociais? Volto para os coqueiros altos do Macuco, a plantação de milho, os cafezais, o curral, o leite fresquinho... A infância rica de natureza e de com quem brincar. Os primos, hoje religiosos, antes apenas bons meninos. A prima que era a única menina da casa, e que se tornou há um ano atrás, mais uma mulher perdida para o câncer.
Paro. Releio o que escrevi. Desejaria recordar mais coisas, mas vem a fase quase idosa interromper. E minha tia, como ela realmente está em seus 92 anos? E como está a parte de mim que escreve? Está bem obrigada! Caminha pelas calçadas, suspira a alma e bem que podia se sentir como uma outra prima me contou: que eu era uma criança feliz, que vivia rindo. A menininha deve ter se transformado em uma escritora feliz que vive no corpo de uma mulher triste. E nem está aí para a vendinha. – Corre, Marília! A tia está chamando! A broa está quentinha.
Marília L Paixão
para o tema: memória afetiva.