O lado bonito da vida - BVIW

Pensava no tanto que a vida era um sopro de nada quando soubera que Julieta queria saber notícias dela. - Pois sim! Mas que notícia dar? Mandaria um e-mail. Tantos anos de ausência. Eram amigas do tempo do internato separadas depois pelos casamentos.
 

Querida Julieta, minha notícia é que ando sem lugar na cidade. Gosto de filmes e não assisto, gosto de músicas e não ouço, gosto de uns drinks e não bebo. Acho que quase não existo. A COVID levou Júlio e me deixou partida.É por isso que deseja notícias minhas? - Peninha de mim?! Estas são as notícias e se ainda tem aquele entusiasmo por cidade grande, venha quando desejar. No final deixarei o endereço e explicação de qual ônibus pegar. Imagino que você não tenha mudado muito e por agora só a cabeça deve estar toda branca. Faço gosto de vê-la. Rita.

Julieta não respondera. Talvez se atrofiara naquele buraco de nada onde ela se viciara em picolés de nata. Talvez não recebera o e-mail ou talvez só queria saber se ela estava viva. Até o dia que o interfone tocou: - Rita?! - Sim, sou eu! -Aqui é Julieta, você pode descer para me ajudar? - Claro! Desceu pensando se tinha vindo com muita bagagem... Deparou-se com uma Julieta em cadeira de rodas toda sorridente. A cabeleira estava bem pintada e ruiva. Não conseguiu esconder a surpresa com a cadeira. - O que houve?! - Nada! E espero que aguente me empurrar no shopping. - Quero que me leve em todos. Essa história de sem lugar numa cidade grande assim é coisa depressiva. Vamos passear pelo lado bonito da vida.