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A tristeza derruba os talheres
A TRISTEZA DERRUBA OS TALHERES.
Marília L. Paixão
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Ninguém deve gostar muito de falar de tristezas. Pior ainda gostar de senti-la.  Será que a maioria das poesias mais lindas teria existido se não houvesse tristeza? E o que sei eu a respeito dos sentimentos dos primeiros poetas do mundo? O que realmente sabemos nós da própria dor? De qualquer forma a vilã tristeza não parece tão feia assim...

Esta também é bela mesmo quando colocada à mesa. Possui seus talheres, seu prato e seu copo. A tristeza também se envaidece, compete, amortece e até pensa que morre aos poucos. Às vezes cresce ao invés de morrer. Não gosta de dar seu parecer sobre algumas lágrimas vazias. Mas prefere estas que as secas, perdidas, em solidão infinda.

Pior de tudo é quando se transforma em mágoa. Costuma endurecer muitas partes por dentro. É uma forma diferente de se estar morrendo mas recusa o nome morte. Tristeza também tem suas preferências. Prefere a sorte de parecer sempre escondida até que vai se amargando a vida. Neste ponto em diante não mais veste-se de branco. Sai por aí maldizendo ou implorando de forma ambígua por alguma nova sorte. Quando não consegue mais se conter pode ensandecer, desandar, falhar, cair...Pode espatifar-se de cima de um telhado, pode atropelar-se toda leviana. Pode provocar infelicidade dos outros ou pode ir embora de uma vez sentindo-se totalmente desapropriada para o sorrir, mesmo que falso.

Tristeza não deixa recados, não manda ordem de despejo e nem vem acompanhada por nenhum aviso prévio.  Tristeza é meio louca, meio sem teto, meio sem tempo, queria até ser verbo. Mas acaba sendo um ponto de desconforto, de mudança de estação ou de outros. Quando fita o copo pensa se deveria enchê-lo de água. Quando fita o prato pensa se nele muito pesaria a alma. Olha os talheres e indecisa quanto a usá-los ou não, acaba por deixá-los caídos no chão. A verdade é que a tristeza não tem cama para ir dormir e depois acordar alegre, mas as pessoas, sim.

______________________________________________________ Marília L. Paixão


A arte de vencer a  tristeza sem derrubar os talheres, já é um assunto bom que deixo para a Alexandra Terra. Eu vou é procurar um remédio para a minha TPM.
Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 13/12/2007
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