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PARA NÃO DIZER QUE NÃO ESCREVI SOBRE O NATAL
PARA NÃO DIZER QUE NÃO ESCREVI SOBRE O NATAL
Marília L. Paixão

Muito se tem escrito sobre o natal. Uns falam com alegria e euforismo sobre seus preparativos. Outros refletem sobre problemas sociais e o modismo de se presentear quem menos precisa. Não tenho muito para falar do natal. Não deixo de refletir sobre o que leio, mas o mundo é cada vez mais individualista e natal para mim significa estar com a família. Poderia usar teorias religiosas e criar milhões de outros significados, mas na prática: Natal é família. O resto são sorrisos, momentos de descanso, poder presentear ou não, estar em paz ou não, é tudo de dentro do ser e dos que estão a sua volta. Quer um bom exemplo disso?

Estava tudo indo muito bem há um mais ou menos um mês atrás. Eu sem me preocupar com o natal de tanto que estava super ocupada com o stress do trabalho em fim de ano. Não deixava de perceber o aumento e movimento de pessoas nas lojas, nas ruas, principalmente por morar na rua principal da cidade. Sim, as pessoas estavam fazendo compras de natal. As pessoas estavam comprando enfeites de natal e eu sequer tinha me lembrado ainda que precisava mandar com urgência cartões de natal para as minhas irmãs do exterior. Até o dia em que a vizinha do apartamento em frente decorou sua porta com uma coisinha lá linda toda delicada. Pois é... Se o Natal estava batendo na porta dela, na minha também tinha que bater, não é mesmo?!

Dona Marília passou então a preocupar com um enfeite de natal para a porta do apartamento dela. E se o da vizinha era tão diferente e bonito o da Marília podia ser pobrezinho e feio? (Nós seres humanos somos todos tolos iguais) e onde Marília ia encontrar um troço bonitinho a altura daquele para pendurar na porta dela, sem ser igual e sem ser menos bonito?  Rs... rs.. E claro que também não ia querer gastar muito com o meu enfeite de porta. Isso é apenas um simples detalhe. Talvez fosse melhor deixar sem enfeite nenhum mesmo! Afinal ela nem o Natal passaria aqui... Colocar lá na porta um enfeite bem bonito só para a vizinha saber que ela também tinha bom gosto e que o natal para ela também era uma data importante?

Mais era tão bom ver aquele monte de gravetinhos com um papai Noel aqui e outro lá, que Marília repetia para si mesma que ia procura algo para a porta dela. Descobriu que a decoração da porta era uma forma de agradar a vizinha oferecendo de volta o mesmo prazer que ela estava lhe oferecendo. Todo dia, toda hora que abria a porta e saia ela dava de cara com aquela simbologia do natal e aquilo lhe despertava alegria. Mas nada que via na rua era bom ou conveniente para o propósito. Também não queria algo que diminuísse a beleza da decoração da vizinha. Queria algo discreto. Decidiu-se por criar a tal decoração ela mesma. (Tô numa fase em que acho que posso criar de tudo... rs.. rs... deve ser culpa da escrita).

Marília Gastou uma tarde de sábado comprando por aí detalhes para a confecção da sua decoração de porta. Chegou em casa cansada e pensou em umas 5 formas de aproveitar aquelas coisinhas que tinha comprado em 4 lojas diferentes. Demorou muito para decidir-se por uma. Depois cortar, imaginar onde por o quê e como... e finalmente para ficar bonitinho e diferente ia ter que costurar umas partes. Isso já era no domingo e a segunda-feira seria brava. Não deu conta. Depois de quase toda arquitetada a obra, acabou enrolando todas as excelentes idéias e guardou na estante por cima dos novos livros que leria nas férias. Pelo menos ela já sabia tudo que queria fazer.

Infelizmente Não teve mais tempo para mexer. Pensou até em levar para uma costureira e pedir que ela fizesse a parte que estava atrasando as outras que seria mais fácil para ela fazer: a parte da costura.... Mas aí pensou que se ela mesma não fizesse, não teria graça. Queria por lá na porta e quando a vizinha elogiasse poder dizer:
-Fui eu mesma quem fiz você gostou?!
  
Chegamos à data de hoje e a decoração da porta continua com o meio caminho andado desde a idéia principal até ir parar lá, enrolada na estante. Acho que a minha vizinha não vai ganhar a minha decoraçãozinha feita com muita criatividade e carinho. Uma amiga me aconselhou a desistir da idéia, ir lá fora comprar um treco qualquer e pendurar na porta.
- De jeito nenhum! Se fosse para por um trem qualquer lá eu já teria posto há muito tempo. Se ela me pendurou lá um trem tão bonito, eu é que não vou pendurar um trem feio.
Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 14/12/2007
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