O significado da espera - BVIW
O significado da espera - BVIW
Espere aí era uma frase traumática para o Zé do burro; mas para o burro, era parte do cotidiano e da lida.
José era um menino muito amado pelos pais e querido pelo povoado. Ainda ia pelos quatro quando ganhara uma irmãzinha. Sentira que a parte maior do sol e da sombra tomara o rumo do bebê que ele ao mesmo tempo que queria brincar, o via ser protegido e agasalhado, com roupinhas bem menorzinhas que as suas. Na medida que o bebê cansava daquele chorinho de menina, que nele não existia, as bochechas de mostravam um sorriso sem igual. Tia do Carmo dizia que era o bebê mais bonito da cidade de Iracema. Na medida que virava uma garota, nem a tal da Iracema do José de Alencar que a tia lia, ganhava da beleza de Bia.
Um dia, daqueles que nem chove e nem faz sol, mas que todos os bichos da fazenda estranham, aparecera um carro preto que parecia andar sem ninguém dentro, de tão escuro que eram as janelas. Ele e o pai estavam na mangueira do fundo do quintal lá longe onde a cerca já era rebentada. Tão logo avistara o carro de longe. O pai impusera com a voz incontestável: espere aí! Espere aí até eu voltar. Mas ele não voltou. A mãe também não. Bia também não. Era noite quando o burrinho encostara no tronco da mangueira e José descera para encontrar só os corpos no chão. Esperar significava não morrer.
Marília L Paixão
Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 30/05/2023
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