Ganhei uma xícara laranjada que enche meu olhar de carinho. Ganhei um par de sapatos verdes que me faz sorrir devagarinho. A vida oferece desses presentes inesperados enquanto uma cerveja era servida.
Agora o café esfria enquanto seguro as cartas. Por trás delas, uma dama esconde uma Monalisa, um rei se sente feliz por reencontrar a Rainha Elizabeth e um valete de copas era o que minha mão precisava.
Do outro lado da mesa, um amor impaciente como se estivesse fazendo o favor de jogar e não agradecer minha paciência.
- Anda logo! Descarta! Você já comprou.
- Sim! Calma.
Comprei. Talvez um passe para uma outra vida. Talvez um ingresso para um show inesquecível, talvez uma viagem no tempo. Diante do impasse do pensamento sonhador, descartei com muito dó um coringa.
- Todo seu, meu anjo.
Por sorte o anjo ( se houvessem anjos ) não conseguiu pegar e o coringa acabou voltando para mim. Não os tempos de solteira ou meus vinte anos atrás. Por trás das cartas sorria meu primeiro mês de terceira idade onde descobrimos que os pequenos presentes significam felicidade.
Eu devia estar vagando pelo continente norte-americano quando perdi o morto.
-Você não está prestando atenção no jogo.
-Olha a mesa! ( O tom reprovador ) Olhei a mesa pequena. Foi uma compra demorada até decidir não comprar a de seis cadeiras.
Marília L Paixão