O bilhete em pessoa
Dona Ilma estava esquisita, distante e mesmo quando punha a mesa, não parecia que estava lá. Seu normal era dar um pitaco ali e outro acolá sobre as beiradas das conversas. Até seu Mário advertiu a mulher sobre a mudança. - Aconteceu nada não. Ela anda triste porque perdeu um bilhete.
Cismado, seu Mário, aposentado, deu de seguir a serviçal quando essa saia às compras. Seria bilhete de algum pretendente? Lá estava ele espreitando na padaria, no supermercado e nada de camarada atrevido abordando a mulher. Perdida essa preocupação, seu Mário voltou para suas mesmices diárias.
Tamanho foi seu susto quando o bilhete aparecera em sua casa em pessoa. A sorte é que a esposa tinha ido ao shopping center. Ilma abrira a porta para o raio de todas as tempestades numa única tarde. A mocinha que adentrou o recinto, metralhava palavras com o peso de uma ira inteira.
- Mãe, eu avisei a senhora que eu vinha. A senhora não pode continuar escondendo de mim quem é o safado do meu pai. Ele tem que pagar pelo menos minha faculdade. Eu não vou ficar sem estudar como a senhora! Ou a senhora me diz logo ou eu armo a barraca aqui até eu descobrir.
Marília L Paixão